Política
12 Julho de 2024 | 13h01

Chefe de Estado fala à imprensa sobre resultados da visita ao Bié

O Chefe de Estado, João Lourenço, prestou, esta quinta-feira, declarações à imprensa, onde comentou sobre os resultados da visita de trabalho de dois que realizou na província do Bié.

JORNAL O PAÍS - Senhor Presidente, ontem assim que chegou, visitou a feira e as informações que obtivemos de agricultores é que o país tem capacidade para garantir autossuficiência na produção de alimentos, bastando apenas que se aposte fortemente nas vias de acesso. Quando se conversa com as administrações, dizem que estão sem capacidade financeira para atender essa ou aquela preocupação relativamente às vias de comunicação. Qual é a sugestão do Senhor Presidente para, digamos, inverter este quadro na perspectiva de que haja a grande produção de que o Governo tanto fala?

 

Presidente João Lourenço: Bom, a minha missão não é sugerir. A minha missão é procurar encontrar soluções. E a problemática de escoamento tem a ver com as vias de comunicação de diferentes categorias, trabalho esse que vimos desenvolvendo a nível do país. O país é extenso, a rede rodoviária é grande. Há muitas estradas que são asfaltadas, outras de terra batida. As de terra batida carecem de uma manutenção mais regular. Esse é um trabalho que vem sendo feito ao longo dos anos. É para continuar. Se ainda há queixas, acredito que sejam legítimas. Nós tomámos boa nota. Durante a reunião, as autoridades da província também colocaram este problema. E o compromisso é arranjarmos recursos para ir construindo ou mantendo as vias existentes, quer as asfaltadas, quer as de terra batida, mas sobretudo as de terra batida.

 

RÁDIO MAIS – A minha questão tem a ver com a falta de fertilizantes, que é uma das questões recorrentes no seio dos camponeses. Na perspectiva do aumento da produção e da diversificação económica, quando é que teremos uma fábrica de adubos para atender às necessidades e que se deixe de gastar dinheiro ou divisas para a importação de fertilizantes?  

 

Presidente João Lourenço: Nós teremos em breve. Está anunciada a grande fábrica na cidade do Soyo, que vai produzir fertilizantes. Estamos esperançados de que quando ela entrar em funcionamento, ou vai cobrir na totalidade as necessidades do país, ou pelo menos suprir uma parcela muito grande daquilo que vimos importando no presente.

 

TPA – Senhor Presidente, depois de ter visitado o Bié, e fundamentalmente ter visto de perto o campo de trigo do Chinguar, estamos, Senhor Presidente, perante o início de uma revolução para a produção de trigo em grande escala no nosso país?

 

Presidente João Lourenço: Angola tem a tradição de produzir grãos, mas sobretudo milho e feijão. Mas do que verificámos ontem na feira aqui na cidade do Cuito, e hoje no Chinguar, na fazenda do senhor Vinevala, começámos a produzir já dois tipos de grãos em relação aos quais não temos grande tradição. Estou a referir-me, concretamente, quer ao arroz, quer ao trigo. A segurança alimentar deve passar, necessariamente, pelo aumento da produção também do arroz e do trigo. O pão nosso de cada dia é feito essencialmente de trigo, e o país tem importado quase que a totalidade ou do grão, ou da farinha de trigo para as pastelarias, para a produção de pão, de bolos e outro tipo de produtos feitos à base de farinha de trigo. Portanto, gostámos do que vimos. Não é apenas o Chinguar que está a produzir trigo. Há outras iniciativas. Esta talvez seja aquela mais visível, daí a razão de termos seleccionado precisamente o município do Chinguar e a fazenda do senhor Vinevala, que deve ser acarinhado e encorajado a continuar a ampliar as zonas de produção. Ele está a fazer algo que é muito importante. Não apenas ele próprio a produzir, como dar oportunidade às comunidades à volta também de produzirem pequenas parcelas do mesmo produto, de trigo. Ele distribui sementes e compra dos camponeses a produção dos mesmos. Isso vai fazer com que os camponeses daquelas comunidades, de ano para ano, aumentem as suas áreas de produção de trigo, porque sabem que tudo que for produzido tem mercado, vai ser comprado. Desta visita aqui à província do Bié aprendemos uma grande lição. E aprendemos de quem? Aprendemos, sobretudo, das famílias humildes do campo, que com o seu trabalho, com a sua produção, estão a ensinar-nos como combater a fome e a miséria: trabalhando. Enquanto muitos intelectuais, políticos, alguns mal-intencionados propalam a ideia de que para se ter comida à mesa e para baixar os preços dos produtos basta um decreto do Presidente da República, ou basta aumentar o volume de importação desses mesmos produtos, os camponeses estão a dar-nos uma grande lição! Estão a dizer-nos: "não! O caminho não é esse, o caminho é trabalhar o campo”. E ontem vimos na feira, aqui no Cuito, que se está a produzir praticamente um pouco de tudo. Vimos municípios que têm 15, 17 variedades diferentes de feijão. Portanto, este é o caminho. Aprendamos, sejamos humildes para aprender com os camponeses esta lição prática que eles nos estão a dar.

 

RNA BIÉ - A província do Bié começa a dar sinais na industrialização agrícola com a entrada em funcionamento das unidades de processamento do Chinguar. Senhor Presidente, o que se pode falar sobre o Pólo de Desenvolvimento Industrial do Cunje e da Plataforma Logística do Cunhinga há muito esperado?

 

Presidente João Lourenço: Bom, estes projectos, que estão em carteira, vão avançar. Mas precisamos de garantir algo que é essencial, que é fazer chegar a energia produzida no Baixo Kwanza aqui ao centro do país, aos municípios, sobretudo aos municípios que são os produtores e transformadores daquilo que se produz no campo.  Ontem, durante a reunião com o governo da província, esta foi uma das questões vistas. Os projectos de expansão da energia produzida no Baixo Kwanza vão acontecer. Portanto, quer o centro, quer o sul, quer o leste do país, vão receber essa energia barata.  Aqui mesmo, na província do Bié, há dias o ministro da Energia acabou de inaugurar a Barragem Hidroeléctrica do Cunje, que já está a servir dois municípios: Camacupa e Catabola. Portanto, havendo maior oferta de energia e de água, os pólos industriais terão o essencial para serem desenvolvidos.

Fonte: JA