Política
08 Julho de 2024 | 14h31

Angolanos desafiados a preservar a histórica cidade de Mbanza Kongo

A histórica cidade de Mbanza Kongo, antiga capital do Reino do Kongo, fundada no século XIII, por Nimi A Lukeni, cuja influência se estendia para algumas regiões dos dois Congo e do Gabão, foi elevada a Património Cultural Mundial, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), faz hoje, sete anos.

Foi a 8 de Julho de 2017 que o Centro Histórico da Cidade de Mbanza Kongo ganhou o estatuto de Património Mundial, fruto da inclusão na lista de bens e sítios culturais protegidos pela UNESCO.

A candidatura de Mbanza Kongo teve votação unânime dos membros do Comité do Património Mundial.

Para assinalar a data, foram programadas diversas actividades, iniciadas na sexta-feira, sob o lema "Mbanza Kongo berço da cultura Kongo”.

O primeiro momento foi marcado por um ritual tradicional, designado "Lembo”, no Cemitério dos Reis do Kongo, testemunhado pelo governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho. A cerimónia consistiu num pedido de bênçãos aos ancestrais.

Um seminário sobre o Kongo e a diáspora, uma feira de produção local, a Expo Kongo, um espectáculo músico-cultural e uma visita aos monumentos e sítios da região marcaram igualmente a data.

 

Tarefas de todos

Ao intervir na cerimónia de abertura das festividades, o governador do Zaire, Adriano Mendes de Carvalho, considerou que a preservação do estatuto de Património Cultural Mundial da cidade de Mbanza Kongo é um desafio de todos os angolanos.

A responsabilidade para a manutenção do estatuto, disse, convoca a todos ao cumprimento de todas as recomendações feitas pela UNESCO, em 2017.

"Se por um lado constitui motivo de orgulho e satisfação para Angola, em geral, e para a província do Zaire, em particular, ter uma cidade com essa categoria, é um desafio para cada um de nós, cidadãos e governantes, preservar este legado, que deve servir de reflexão sobre aquilo que tem sido a nossa contribuição para que Mbanza Kongo continue a ser uma cidade digna de ostentar este título”, exortou.

Segundo o governador do Zaire, a elevação de Mbanza Kongo a Património Cultural Mundial foi um acto de justiça e de mérito, tendo em conta o valor do seu acervo histórico-cultural possui, não só para Angola, mas, também, para a memória colectiva da Humanidade, daí a necessidade do envolvimento de todos para a sua preservação.

"Este reconhecimento tem um valor expressamente simbólico e rende homenagem aos distintos filhos desta região, tais como Nimi A Lukeni, Nsaku Ne Nvunda, Kimpa Vita, dentre outros, cujos nomes continuarão a fazer parte da memória dos anais deste grande Reino do Kongo e da sua capital”, sublinhou.

 

Cumprimento das recomendações

O governador recordou que, das recomendações feitas pela UNESCO, muitas estão a ser cumpridas, tais como a descontinuidade operacional do actual aeroporto de Mbanza Kongo, por se encontrar no centro da cidade, motivo pelo qual estão em curso as obras do novo, na comuna do Nkiende, para dar melhor dignidade à população.

 "Está em curso a requalificação das vias urbanas, não só no sentido de conferir outra imagem à cidade, mas também, para a melhoria da mobilidade de pessoas e bens. Ainda assim, no quadro das recomendações, foram removidas as torres metálicas de comunicações e de radiodifusão da zona tampão da cidade, para garantir maior segurança”, acrescentou.

Enquanto Património Cultural Mundial, lembrou, Mbanza Kongo tem, em si, marcos históricos que devem ser bem preservados, daí o desafio da requalificação das 12 Fontes de Água que circundam a cidade, cujo compromisso continua na agenda dos Governos central e local.

 

Investimento privado

Adriano Mendes de Carvalho considerou também o investimento privado como peça fundamental para o desenvolvimento sustentável da província.

"A província do Zaire precisa do investimento privado para explorar as suas ricas potencialidades, sobretudo nos domínios da Economia Azul, que é essencial para o desenvolvimento sustentável da Pesca e da Agricultura, pois a região possui todos os factores impulsionadores para garantir a segurança alimentar”, frisou.

Adriano Mendes de Carvalho garantiu que o Governo do Zaire está empenhado na criação de condições que permitam conferir maior dignidade a Mbanza Kongo, aos seus munícipes e aos visitantes.

"Todavia, reconhecemos que fazer de Mbanza Kongo uma cidade com as condições que correspondam ao seu estatuto, não será um objectivo a ser alcançado a curto prazo, muito menos será possível contando apenas com os esforços do Governo. Por isso, apelamos a todas as forças vivas da província e desta cidade, para que se unam em prol do seu desenvolvimento, cada um contribuindo positivamente no que puder, porque todos somos poucos para o grande desafio que Mbanza Kongo nos coloca”, apelou.

O Festival Internacional da Cultura Kongo (Festikongo) que geralmente acontece neste período, foi adiado para o próximo ano, que coincide com a celebração dos 50 anos de Independência do país, para melhor preparação do evento.

Desde a fundação do Reino do Kongo, no século XIII, a cidade de Mbanza Kongo foi a capital, o centro político, económico, social e cultural, sede do Rei e a sua corte, e centro das decisões.

Mbanza Kongo foi, no século XVII, a maior vila da Costa Ocidental da África Central, com uma densidade populacional de 40 mil habitantes (nativos) e quatro mil europeus.

Ganhos nos sectores da Educação e Saúde

O administrador municipal de Mbanza Kongo, Manuel Nsiansoki Gomes, disse ao Jornal de Angola que a região registou, nos últimos anos, alguns progressos no seu desenvolvimento, com a construção de muitas infra-estruturas de impacto social.

"Apesar de haver ainda muito por fazer, houve ganhos nos sectores de Educação, Saúde, vias de comunicação, saneamento básico, energia eléctrica e água potável e no capítulo da segurança interna, por meio do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM)”, adiantou.

Quanto à recolha de lixo na cidade, o administrador disse que com a Administração continua a afinar o processo para evitar acumulação de lixo. No tocante ao sector da Saúde, o administrador de Mbanza Kongo apontou avanços significativos a nível da sede, após a construção, reabilitação e apetrechamento de centros médicos e postos de Saúde.

"Em todas as comunas temos centros médicos, sendo dois no Luvo, igual número no Kalambata, um no Madimba, dois no Nkiende e um no Kaluka, para além dos postos de saúde”, descreveu.

A cidade de Mbanza Kongo, frisou, viu, também, a serem asfaltados seis quilómetros de vias secundárias e terciárias dos bairros Álvaro Buta, 4 de Fevereiro e Bela Vista, projectos que incluem a iluminação pública.

Quanto aos monumentos e sítios, o administrador de Mbanza Congo reconheceu haver, ainda, muito trabalho por fazer, para a satisfação dos anseios dos visitantes.

"Os projectos estão em curso para mudar o quadro dos monumentos e sítios. Por exemplo, estão em curso acções de construção e requalificação de quatro das 12 Fontes de Água, nomeadamente, Ntetembua, Kilumbo, Madungo e Santa, que constam das prioridades do Governo, cujos concursos públicos foram feitos, aguardando-se a alocação de verbas a qualquer momento”, assegurou.

 

Munícipes notam aumento de turistas

A este propósito do 7º aniversário da elevação de Mbanza Congo a Património Cultural Mundial, o Jornal de Angola entrevistou duas munícipes, a estudante Emília Pemba Ribeiro, e a técnica de Laboratório Jurema Palmira.

Emília Pemba Ribeiro, 23 anos de idade, reconheceu que  após a elevação de Mbanza Kongo a Património Cultural Mundial, nota-se alguma frequência de turistas, com o interesse de saberem mais sobre a história da cidade, o que, no seu entender, representa um sinal positivo que devia ser aproveitado para mais investimentos e valorização dos monumentos e sítios.

"Devo reconhecer que, de lá para cá, tem havido um aumento de turistas que visitam os nossos monumentos e sítios, todavia, deve-se fazer mais para a sua preservação e valorização”, apelou.

A estudante sugere, também, mais trabalhos de melhoria e organização do processo turístico para que, a partir do estrangeiro ou mesmo internamente, os interessados em visitar Mbanza Kongo estejam, de antemão, informados.

Quanto a infra-estruturas, Emília Pemba Ribeiro reconhece ter havido algumas melhorias, como a reabilitação das ruas, iluminação pública, passeios, o saneamento básico, a distribuição de água e energia eléctrica.

 "Muitas infra-estruturas foram erguidas, com destaque para os sectores de Educação e Saúde. Melhorou, significativamente, a distribuição de energia eléctrica e de água à cidade, foram asfaltadas vias secundárias e terciárias, incluindo passeios e iluminação pública. Esses projectos, por si só, enobrecem a região”, reconheceu.

A técnica de Laboratório Jurema Palmira, 27 anos de idade, reconhece também algumas melhorias em termos de infra-estruturas, mas defende mais conjugação de esforços entre o Governo e o sector privado, para melhorar o aspecto dos monumentos e sítios históricos, como forma de atrair mais turistas.

"Mesmo nós que cá residimos, precisamos de visitar mais os nossos monumentos e sítios. Para tal, deve haver melhorias, não pode ser o mesmo panorama de sempre, deve-se agregar elementos novos que possam atrair visitantes a esses sítios, construir jangos, quiosques, dar-se um novo visual que leve os turistas ou habitantes de Mbanza Kongo a visitar aqueles espaços”, apelou.

Os principais momentos e sítios de Mbanza Kongo são as ruínas do Kulumbimbi, o Cemitério e o Museu dos Reis do Kongo e as 12 Fontes de Água, que circundam a cidade.


Fonte: JA