Internacional
28 Junho de 2024 | 14h44

Iranianos elegem novo presidente entre “esperança” e descrença

Frente a uma mesquita do centro de Teerão, eleitores iranianos esperam hoje numa longa fila para votar nas presidenciais, enquanto outros, decididos a absterem-se numa eleição “que não vai melhorar a situação”, optaram por um parque vizinho.

Os iranianos votam hoje para eleger um novo Presidente de entre quatro candidatos, incluindo um reformador até agora desconhecido que espera abalar a preponderância dos conservadores.

Esta eleição presidencial, inicialmente prevista para 2025, foi organizada em poucas semanas para substituir o Presidente Ebrahim Raissi, que morreu num acidente de helicóptero a 19 de maio.

Em declarações à agência noticiosa AFP, Mitra, uma dona de casa de 47 anos, foi votar à mesquita Ershad com a sua filha adolescente, que colocou um ‘hijab’ nas costas, deixado os cabelos descobertos.

Mitra vai votar em Massoud Pezeshkian, o único reformador entre os quatro candidatos em disputa. Em particular para que a sua filha possa "deslocar-se na rua sem contrariedades”.

No decurso da campanha, "Pezeshkian prometeu que iria terminar com a polícia dos costumes”, cuja função consiste em fazer respeitar o uso do véu obrigatório pelas mulheres nos locais públicos, assinala Mitra.

"Não penso que possa fazer algo” para mudar a situação, mas "não votar também não adiantaria”, precisou em tom fatalista, citada pela AFP.

A fila que se formou frente à mesquita é mais compacta do que durante a última eleição presidencial de 2021, quando a taxa de participação foi inferior a 50%, a mais fraca desde a Revolução islâmica de 1979.

Esse escrutínio caracterizou-se pelo alheamento de parte dos jovens e das classes mais elevadas devido à desqualificação dos candidatos reformadores e moderados, e que implicou uma vitória do conservador Ebrahim Raissi.

"Felizmente, este ano, os reformistas têm o seu candidato e esperamos que a participação seja mais elevada”, declarou o responsável reformador Mohammad Sadr, que votou na mesquita.

O "doutor” Pezeshkian, médico de formação, é "honesto” e "não faz promessas extravagantes, ao contrário dos restantes candidatos”, considerou Assad, um reformado de 70 anos, em declarações à AFP.

O ato eleitoral realiza-se num contexto delicado para a República Islâmica, que tem de gerir simultaneamente tensões internas e crises geopolíticas, da guerra na Faixa de Gaza à questão nuclear, a cinco meses das eleições presidenciais nos Estados Unidos, seu inimigo declarado.

A campanha, que começou de forma desapaixonada, foi mais competitiva do que a anterior, em 2021, graças à presença do reformista Massoud Pezeshkian, que se impôs como um dos três favoritos.

Os seus dois principais adversários são o conservador presidente do Parlamento, Mohammad-Bagher Ghalibaf, e Saïd Jalili, o ultraconservador ex-negociador nuclear.

Esta proximidade de destaque poderá levar a uma segunda volta, o que só aconteceu numa eleição presidencial, em 2005, desde o início da República Islâmica, há 45 anos.

Para ter hipóteses de ganhar, Massoud Pezeshkian deve esperar uma elevada taxa de participação, ao contrário da eleição presidencial de 2021, que foi marcada por uma abstenção recorde de 51% quando nenhum candidato reformista ou moderado foi autorizado a concorrer.

Ao votar logo após a abertura das assembleias de voto, o guia supremo, ayatollah Ali Khamenei, exortou os 61 milhões de eleitores iranianos a "tomarem a votação a sério”, acrescentando não existir "qualquer razão” para não votar.

No sul de Teerão, mais popular que o centro da capital, os eleitores também se concentram em grande número para votar no mausoléu Shah Abdol Azim, decorado com bandeiras verde-branca-vermelha, as cores nacionais.

Este bairro é um bastião dos apoiantes do poder, que podem escolher entre três candidatos conservadores, com dois a perspetivarem a vitória: Mohammad-Bagher Ghalibaf, presidente do parlamento, e Said Jalili, antigo negociador do ‘dossier’ nuclear.

"As eleições não melhoraram a situação, pelo contrário”, assinala no entanto Pedram, um funcionário público de 50 anos. "Se as pessoas deixarem de participar nos diversos escrutínios, alguma coisa acabará por acontecer”, considerou este homem, que disse ter votado por Ebrahim Raissi em 2021.

Fonte: NM