Política
17 Junho de 2024 | 14h45

França Van-Dúnem vai ser sepultado hoje no Cemitério do Alto das Cruzes

Entidades académicas, deputados e familiares consideraram, ontem, o antigo Primeiro-Ministro, o Professor Doutor França Van-Dúnem, falecido aos 89 anos, por doença, “um humanista de trato simples e um intelectual completo".

O reconhecimento foi expresso no fim da tarde, logo depois da deposição da urna com os restos mortais de França Van-Dúnem, no Quartel General do Exército, onde é homenageado esta manhã por figuras dos órgãos de soberania, para depois seguir em cortejo automóvel para o Cemitério do Alto das Cruzes.

A Reitora da Universidade Católica de Angola (UCAN), madre Maria de Assunção, recordou uma particularidade do Professor emérito daquela instituição universitária, sublinhando que o mesmo chegava a "pagar discretamente” propinas a estudantes que não tinham possibilidades financeiras.

Sobre os 20 anos de relação de Fernando José de França Dias Van-Dúnem com a Universidade Católica de Angola, Maria de Assunção disse que o Decano dos Professores da UCAN foi um homem extremamente humanista e de uma grande simplicidade, que fazia o bem sem dar visibilidade.

Em declarações ao Jornal de Angola, a reitora sublinhou que o antigo Primeiro –Ministro tinha inúmeras qualidades, com realce para a de um humanista atento às situações reais de cada um e manifestava a personalidade de um verdadeiro transmissor da ciência, à base dos valores morais, éticos e religiosos.

No que toca à veia humanista, Maria de Assunção acrescentou que França Van-Dúnem tinha uma atenção especial para com os estudantes de forma individual, sobretudo para aqueles que mais precisavam, oferecendo ajuda discretamente.

Ao fazer um curta incursão sobre o processo de criação de universidades privadas em Angola, em 1999, a reitora Maria de Assunção lembrou que França Dias Van-Dúnem, enquanto Primeiro-Ministro, impulsionou e se bateu para a institucionalização do ensino superior privado, começando com a UCAN. "Deu todo o apoio necessário para que o projecto UCAN se materializasse, tendo, em 2000, optado por ser docente da instituição, uma função que desempenhou durante 20 anos com muita responsabilidade, dedicação e amor, o que lhe mereceu a designação de Professor emérito e Decano da Universidade Católica de Angola”, destacou.

Organizada pela UCAN e a Ordem dos Advogados de Angola, a cerimónia de homenagem a França Dias Van-Dúnem é, no entender da reitora Maria de Assunção, uma verdadeira manifestação de gratidão de tudo quanto o Professor fez em prol da comunidade académica, política e diplomática do país.

Na ocasião, um dos irmãos do malogrado, o antigo ministro da Saúde José Van-Dúnem, disse que França Van-Dúnem era um guia para muitos, cuja trajectória política, académica, humanista e diplomática é e vai ser um legado para muitos. Dentre todas essas dimensões, acrescentou, a mais marcante foi a académica.

 
Formação de quadros

José Van-Dúnem referiu que o irmão, percebeu, desde muito cedo, que ao se dedicar à formação para a juventude estaria a construir uma grande nação, bem como tornaria este o único e verdadeiro caminho de manifestar o seu amor à pátria e contribuir para o desenvolvimento e o bem-estar dos angolanos.

França Van-Dúnem, assinalou, optou pela academia, porque sabia que o país seria mais forte e capaz de ser inclusivo se tivesse uma geração bem formada e onde todos sentissem a necessidade de trabalhar em conjunto.


Passagem marcante no Parlamento

Durante a cerimónia , o deputado Benjamim da Silva considerou França Dias Van-Dúnem um homem de dimensão imensurável e alguém que tinha uma projecção só comparável a de "uma majestade intocável, porém ao mesmo tempo uma pessoa incrivelmente simples”.

Segundo o deputado, França Dias Van-Dúnem era "um intelectual completo".

Lembrou que durante a sua passagem no Parlamento angolano, enquanto presidente, tratava os colegas de forma muito respeitosa e incomparável, era de grande simplicidade e muita intelectualidade, independentemente da sua marca partidária. "Tecnicamente, França Dias Van-Dúnem foi um homem muito honesto".

Por sua vez, o ex-deputado Ernesto Mulato, que também foi da geração de França Dias Van-Dúnem, disse que enquanto jovem, o professor foi uma personalidade que muito deu para a independência de Angola, numa fase em que o país carecia de quadros ao seu nível.

Ernesto Mulato recordou que conheceu melhor França Dias Van-Dúnem quando entrou na Assembleia Nacional, onde foi o chefe da delegação para o Parlamento Pan-Africano, tendo notado nele um intelectual de grande craveira e um homem extremamente simples.

França Dias Van-Dúnem, frisou o ex-deputado, ocupou muitas funções no país, porém a sua estatura não o deixou vaidoso, antes pelo contrário era um homem muito simples, de modo que a sua morte é uma perda para a nação e o continente africano, porque foi um impulsionador da fundação da Organização da Unidade Africana (OUA), tendo feito muitas jornadas a favor de África.

Na cerimónia de homenagem a França Dias Van-Dúnem, que decorreu no Ex- RI-20, estiveram presentes familiares, amigos deputados, ministros, o Arcebispo de Luanda, Dom Filomeno Vieira Dias, e entidades da sociedade civil.


Fonte: JA