Economia
11 Junho de 2024 | 14h47

Produção alimentar da Matala capaz de abastecer a indústria

Água em abundância, terras agricultáveis extensas e agora energia eléctrica em quantidade, depois que foi elevada a potência energética da central hidroeléctrica local, o município da Matala, no extremo leste da província da Huíla, acumula condições para se tornar num centro de produção de bens alimentares de excelência, capaz de abastecer em quantidades industriais.

Dotado do maior perímetro irrigado do país, com os seus cerca de 10,7 mil hectares cultiváveis, alimentados por um canal aberto de 43 quilómetros de extensão, abastecido pelo caudaloso rio Cunene, o município pode vir a assumir-se como um líder na produção de cereais, tubérculos, leguminosas, hortícolas e frutícolas se maior proveito for dado ao seu potencial acumulado, ao qual se junta as fortes tradições na agricultura dos seus habitantes.

 
Actividade produtiva

De acordo com o presidente da Cooperativa 1º de Maio, a agremiação que mais se destaca naquele perímetro em termos de performances produtivas, apenas 600 dos mais  de dez mil hectares do projecto recebem actualmente energia proveniente da rede pública, que alimenta os sistemas de rega modernos.

Victor Fernandes disse esperar grandes ganhos da actividade produtiva do município, com o aumento da oferta da energia da rede, que vai se estender ao perímetro irrigado, o que vai substituir os geradores eléctricos e motobombas até agora usados no processo de rega em grande parte dos campos, o que tem pesado bastante no bolso dos agricultores, devido aos grandes gastos com os combustíveis e lubrificantes.

O responsável adiantou que os produtores aguardam a extensão de uma nova linha que deve ligar até o último campo do perímetro, como forma de reduzir os custos com o uso de motobombas no processo de rega.

É visível que o município da Matala tem tudo para dar certo no domínio da produção agrícola à escala industrial. Além do potencial hídrico e energético, a localidade está na rota da linha férrea do Caminho-de-ferro de Moçâmedes, é dotado de um aeroporto e ligação por estrada, infra-estruturas suficientes para facilitar o escoamento da produção para qualquer ponto do país.

 A localidade foi beneficiada há alguns anos com quatro silos para armazenamento de cereais, com capacidade de 18,300 toneladas, e uma fábrica de concentrado de tomate, todos inoperantes desde 2012, e em estado de  quase abandono.

 
Dificuldades de insumos

Mas na Matala, a terra, a água abundante e a energia eléctrica disponível não são tudo. Os produtores do Perímetro Irrigado precisam de muito mais para que os grandes resultados produtivos cheguem. Tal é a persistente necessidade de acesso facilitado aos insumos agrícolas, como são as sementes, os fertilizantes e os insecticidas.

Os produtores daquele projecto agrícola, na sua maioria associados em cooperativas, queixam-se das dificuldades de aquisição dos inputs, a julgar pelos elevados preços praticados nos mercados.

Indicam que um saco de adubo de 50 quilogramas, por exemplo, é actualmente adquirido acima de 40 mil kwanzas, o que pode tornar a actividade produtiva insustentável.

"Temos problemas de fertilizantes. Os preços subiram tanto que já não estamos a aguentar mais”, queixou-se o agricultor.

Victor Fernandes admitiu que aos preços que as sementes e os fertilizantes estão a ser adquiridos, fica difícil comercializar os produtos a preços baixos.Para ele,a subvenção a esses inputs devia ser a melhor saída para manter a actividade sustentável. E sem uso de fertilizantes, enfatiza, não há produtividade.   

Com milhares de hectares de terras férteis, o perímetro irrigado da Matala tem grande parte do seu espaço ocioso a aguardar por exploração, apesar de estarem nas mãos de sete cooperativas.

Na cooperativa,um total de 24 agricultores, dos 160 que compõem a agremiação, beneficiou de um financiamento do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Agrário (FADA) para desenvolver a actividade agrícola.

Cada beneficiário recebeu 15 milhões de kwanzas, dez milhões dos quais convertidos em insumos, como sementes de batata-rena, alho, cebola, tomate e fertilizantes, e os restantes cinco milhões que vão servir para pagar o pessoal trabalhador.

O péssimo estado da estrada de terra batida que dá acesso ao projecto tem estado a dificultar a circulação e o transporte dos produtos para os mercados de consumo. 

O Perímetro Irrigado da Matala existe desde a época colonial e foi recuperado no princípio da década de 2000. Possui uma área bruta de 10 mil e 732 hectares, dos quais 6.831 destinados à exploração agrícola e 3.901 à pecuária.

Conta actualmente com cerca de 660 produtores, organizados em sete cooperativas agrícolas, que produzem ao ano acima de 12 mil toneladas de produtos diversos, com realce para a batata-rena, o tomate, a cebola, o alho e o milho.


Aposta no arroz é uma realidade

A fazenda agrícola "Olombi Agro-negócios”, no município da Matala, pretende elevar os níveis de produção de arroz este ano para cima de quatro mil toneladas anuais, com o aumento gradual do espaço de cultivo, como afirmou o director do projecto, Paulo Gao.

 Projectada num espaço de 514 hectares, no Perímetro Irrigado da Matala, a propriedade, gerida por uma empresa chinesa, está a explorar 300 hectares, cem dos quais para a produção de arroz e os restantes para o cultivo de milho, batata-rena e cebola.

 O responsável da exploração destacou que o espaço espera colher nos próximos dois meses mais de duas mil toneladas de arroz, no espaço de 100 hectares, naquela que vai ser a primeira das duas safras deste ano.

 Paulo Gao disse que além das quatro mil toneladas de arroz, a fazenda produz anualmente seis mil toneladas de milho, mil de batata-rena e igual quantidade de cebola,  estando nesta altura em fase da primeira colheita de milho, escoados para o mercado nacional.

 A meta, nos próximos dois anos, é alargar o espaço de cultivo para elevar os níveis de produção do arroz, tirando maior proveito dos mais de 500 hectares de terra disponíveis. O projecto é um investimento de 10 milhões de dólares e emprega mais de 100 trabalhadores, entre angolanos e chineses.


Fonte: JA