Internacional
29 Maio de 2024 | 16h16

Incerteza sobre recandidatura de deputada atrapalha campanha trabalhista

A primeira mulher negra a ser eleita deputada no Reino Unido, Diane Abbott, confirmou hoje que foi proibida de se recandidatar pelo Partido Trabalhista nas eleições legislativas de 04 de julho por comentários sobre racismo.

m declarações esta manhã às estações BBC e Sky News, confirmou que tinha sido readmitida no grupo parlamentar trabalhista, mas que está "proibida de concorrer como candidata pelo 'Labour'".

Eleita desde 1987 pela circunscrição eleitoral de Hackney North and Stoke Newington, em Londres, estava suspensa há um ano no grupo parlamentar devido ao que descreveu na altura como comentários "profundamente ofensivo e errados". 

Na origem esteve uma carta carta publicada pelo jornal 'The Observer' em abril de 2023, onde a deputada afirmava que os judeus, os irlandeses e osviajantes são "indubitavelmente vítimas de preconceito", mas "não estão sujeitos ao racismo durante toda a vida", ao contrário dos negros.

Perante as acusações de antissemitismo, Diane Abbott pediu imediatamente desculpa e retratou-se, mas o partido determinou uma investigação interna.

Na terça-feira, a BBC noticiou que o processo terminou há seis meses, apesar de o resultado não ter sido divulgado, e o jornal The Times avançou com a notícia de que Abbott estava proibida pela direção do partido de se recandidatar. 

Pressionado pelas inúmeras críticas, o líder trabalhista, Keir Starmer, foi obrigado hoje a garantir que "não foi tomada nenhuma decisão para a impedir de continuar" como candidata. 

Os secretários-gerais dos sindicatos Aslef, TSSA, Unite, NUM, CWU e FBU escreveram a Keir Starmer pedindo-lhe que deixe Diane Abbott candidatar-se às eleições pelo Partido Trabalhista.

Numa série de mensagens na rede social X, o Momentum, grupo que representa a ala esquerda do Partido Trabalhista, afirmou que seria "escandaloso" reintegrar Diane Abbott para bloquear a sua candidatura, apesar de ter sido escolhida "por unanimidade" pela secção local do partido.

Seria "uma bofetada na cara de Diane, dos seus eleitores e dos milhões de pessoas inspiradas pelo seu exemplo", afirmou o Momentum. 

Os conservadores acusaram os trabalhistas de "mentirem" e o primeiro-ministro, Rishi Sunak, pediu "transparência", naquela que é a maior controvérsia a ofuscar a campanha do 'Labour', favorito para ganhar as eleições devido à vantagem nas sondagens.

Os analistas políticos consideram que esta é uma tentativa de distanciar o Partido Trabalhista da fama de antissemitismo e uma oportunidade para afastar outra figura histórica da ala esquerda. 

Diane Abbott, de 70 anos, é próxima do ex-líder trabalhista Jeremy Corbyn, o qual foi expulso da bancada parlamentar trabalhista em 2020 por relativizar um relatório sobre antissemitismo no partido.  

Corbyn anunciou na semana passada que iria candidatar-se como independente. 

O professor de política britânica na Universidade Queen Mary University of London, Colm Murphy, explicou que a seleção de candidatos ao parlamento britânico é tradicionalmente amargo e que a direção tenta frequentemente impor candidatos às secções locais. 

"Corbyn e Abbott são casos invulgares. O resultado do processo de Corbyn não é surpreendente. Mas o processo de Abbott parece opaco visto de fora, e parece que o partido pode ter desperdiçado a oportunidade de a deixar reformar-se sem uma polémica pública", afirmou o académico à Agência Lusa.

Murphy duvida que as controvérsias sobre a seleção de candidatos façam a diferença em termos eleitorais. 

"Mas este tipo de batalhas pode ser corrosivo para a unidade do partido. Se os trabalhistas ganharem, mas a maioria for mais reduzida do que as sondagens sugerem, então estas disputas poderão ser importantes a longo prazo", avisou. 


Fonte: NM