Internacional
29 Maio de 2024 | 15h55

Quem "marginalizou" África deve apoiar o seu desenvolvimento

O Presidente do Ruanda afirmou hoje, em Nairobi, que é "do interesse do mundo que marginalizou África" contribuir para o seu desenvolvimento porque em algumas décadas será o "único" continente com uma classe média "crescente".

"Mas África não pode esperar que mais ninguém nos dê esta oportunidade, por isso devemos estar na linha da frente, lutando por este direito, para nós mesmos, mas também para o que contribui para o bem-estar do resto do mundo", afirmou Paul Kagame no evento diálogo presidencial de alto nível, na capital do Quénia, à margem dos encontros anuais do Banco Africano de Desenvolvimento.

"Dentro de algumas décadas, o único lugar nestemundo que terá uma classe média crescente será África. Portanto, é mesmo do interesse do resto domundo que marginalizou África contribuir para o bem-estar do nosso continente. Porque o crescimento de África, baseado nesta classe média, alimenta o crescimento do resto do mundo", justificou, ao intervir numa sessão com a participação de uma dezena de chefes de Estado e de Governo africanos.

Acrescentou que "existem recursos enormes" em todo o mundo, mas "distribuídos de forma desigual", defendendo ser necessário alterar "a atual arquitetura financeira", para que " inclua de forma significativa e visível os interesses" de África.

O Grupo Banco Africano de Desenvolvimento é a principal instituição africana de financiamento do desenvolvimento e reúne-se em Nairobi até sexta-feira para debater "A Transformação de África, o Grupo Banco Africano de Desenvolvimento e a Reforma da Arquitetura Financeira Global", com a presença de 3.000 participantes, entre políticos, governantes, economistas e especialistas de várias áreas, de todo o mundo.

Estes encontros incluem a 59.ª Reunião Anual do Conselho de Governadores do Banco Africano de Desenvolvimento e a 50.ª Reunião do Conselho de Governadores do Fundo Africano de Desenvolvimento, decorrendo no Centro Internacional de Conferências Kenyatta, em Nairobi.

Segundo informação do BAD, apesar de um "crescimento económico sustentado ao longo das duas últimas décadas, a transformação económica de África continua incompleta". O Produto Interno Bruto (PIB) real do continente cresceu 4,3% por ano entre 2000 e 2022, "em comparação com a média mundial de 2,9%, e muitas das dez economias de crescimento mais rápido do mundo situavam-se em África".

"Apesar deste sólido desempenho em termos de crescimento, a estrutura das economias africanas não se alterou significativamente nas últimas duas décadas, com os setores da agricultura, da indústria e dos serviços a representarem, em média, 16, 33 e 51%, respetivamente, do PIB global de África entre 2000 e 2022. Estes níveis são semelhantes aos registados na década de 1990", recorda a instituição.

Também o emprego na indústria transformadora "tem vindo a diminuir devido a uma desindustrialização prematura", já que "apesar do aumento do número de empregos", de 20,2 milhões em 2000 para 33,3 milhões em 2021, "o setor contribui com menos de 10% do emprego total".

O Grupo BAD conta com 81 Estados-membros, entre 53 países africanos e 28 países fora do continente, incluindo Portugal e Brasil.

Fonte: NM