Política
03 Fevereiro de 2024 | 16h15

Presidente da República defende planos de emergência sólidos para a prevenção da cólera

O Presidente da República, João Lourenço, defendeu, sexta-feira, a criação de planos de emergência sólidos, recursos humanos capacitados e sistemas de alerta eficazes que actuem, de forma rápida, eficiente e coordenada, como resposta para o controlo e prevenção dos actuais surtos de cólera na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Ao discursar na cimeira virtual do órgão, convocada com carácter de urgência, dada a dimensão do problema e o risco de propagação transfronteiriço, o estadista angolano, que dirigiu a reunião na qualidade de presidente em exercício da SADC, referiu que a luta contra a cólera deve exigir mais do que o simples tratamento médico.

"Ela requer uma estratégia abrangente que integre a promoção da saúde nas comunidades, cuidados de saúde de qualidade, gestão eficaz de casos e o uso estratégico de vacinas orais contra a cólera, como medida preventiva”, destacou. 

João Lourenço disse ser importante reconhecer, para o controlo da cólera, a importância de acções multissectoriais coordenadas, para potenciar uma abordagem abrangente, visando impactar, positivamente, os determinantes sociais e ambientais da saúde, que influenciam directamente o bem-estar das comunidades da região. 

O estadista angolano ressaltou que a abordagem dos países da região deve focar-se em acções sustentáveis, que melhorem o acesso à água potável, saneamento adequado e na promoção de práticas de higiene individual e colectiva, factores  fundamentais na prevenção da transmissão da doença, redução da morbilidade, mortalidade e protecção da população.

O presidente em exercício da SADC considerou fundamental fortalecer a comunicação de risco e envolvimento comunitário, incluindo a formação das comunidades, para assegurar a vigilância comunitária, a troca, em tempo real, de informações, conselhos e opiniões entre especialistas e líderes comunitários e população, para se mitigar o risco e prevenir a doença.

Neste momento, em que se verifica o risco de propagação da doença na África Austral, João Lourenço disse ser crucial fortalecer a vigilância epidemiológica, em todos os pontos fronteiriços, para garantir a segurança sanitária e reduzir a transmissão da doença na circulação de pessoas, bens e serviços entre os países. 

Em relação aos Estados-membros assolados pelo surto, o Presidente da República considerou fundamental a avaliação das acções de recuperação pós-epidemia, fortalecendo os sistemas de saúde, de saneamento básico e outras medidas de prevenção contra futuras ameaças.

João Lourenço lamentou, por outro lado, o facto de muitos países da região disporem de recursos limitados para aquisição de produtos médicos, vacinas, testes e reagentes laboratoriais, visando a prevenção e a gestão adequada e oportuna dos casos. 

O mais preocupante ainda, sublinhou, é a capacidade limitada no acesso às vacinas, pelo que disse ser necessário desafiar as normas existentes e adaptá-las ao contexto actual, para que os países possam ter um acesso oportuno, equitativo e em quantidades seguras para todas as populações em áreas afectadas e de alto risco, nomeadamente populações vítimas de catástrofes naturais e de zonas fronteiriças com casos activos. 

João Lourenço afirmou, de igual modo, ser urgente o fortalecimento dos mecanismos de transferência tecnológica, o investimento em fábricas para a produção local de medicamentos, produtos médicos e vacinas, visando a auto-suficiência, assim como garantir o desenvolvimento económico e tecnológico, para a criação de empregos e incentivar a inovação do sector farmacêutico da África Austral.

Apesar do compromisso dos Estados-membros, evidenciado por investimentos em capital humano, no reforço de infra-estruturas, no aumento do acesso equitativo aos serviços de saúde, à água potável em quantidade e qualidade e ao saneamento básico, reconheceu que o caminho a percorrer para alcançar o quadro regional para a aplicação da Estratégia Mundial 2030 de Prevenção e Controlo da Cólera ainda está ameaçado com surtos recorrentes, relacionados às alterações climáticas, propiciando a proliferação da doença e limitando a capacidade de resposta rápida e eficaz da região.

Lembrou que a SADC enfrentou, ao longo dos anos, "grandes e inúmeros desafios”, que soube ultrapassar graças à unidade de acção. João Lourenço recordou "o alarmante” número de casos e óbitos registados, em 2023, nos Estados atingidos por ciclones devastadores, como na Zâmbia, no Zimbabwe, no Malawi, em Moçambique e na Tanzânia, agravado, este ano, pelas chuvas e inundações que serviram de rastilho para uma nova onda de casos, representando um obstáculo à agenda de desenvolvimento económico e social da região.

Emergências de saúde pública é exigência vital

O presidente em exercício da SADC salientou que a preparação para emergências de saúde pública constitui uma exigência vital no momento actual, devendo, por isso, a região estar pronta para enfrentar e superar os desafios que se colocam, dado o facto de a prevenção ser a chave do problema.

"Por isso, devemos nos empenhar em fortalecer os nossos sistemas de saúde, a vigilância epidemiológica, laboratorial e ambiental, mitigar os riscos e educar a população”, exortou, ressaltando que a crise de Saúde Pública que assola a SADC representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável e ao bem-estar dos povos.

Face a este momento crítico de saúde observado na região, o estadista defendeu a urgência na resposta e a necessidade de uma acção coordenada e eficaz, advertindo que a cólera não conhece fronteiras e exige uma abordagem regional para  a enfrentar com sucesso.

Para estes momentos de desafio, apontou a solidariedade e a acção conjunta, que unem a região, como factores indispensáveis para uma resposta colectiva e coordenada que previna e controle a propagação da doença a nível da comunidade.

"Neste momento crítico, gostaria de expressar a minha solidariedade para com os países afectados por esta doença devastadora, assim como para as famílias que perderam entes queridos e com aqueles que estão a lutar contra a doença nos países irmãos afectados”, frisou.

Apesar de a região estar a viver este "ambiente extremamente desafiante”, o Presidente João Lourenço recordou que a mesma tem encontrado respostas concretas e colectivas de mitigação dos efeitos adversos de outros desafios de saúde, como o VIH/Sida e a Covid-19, razão pela qual disse acreditar que vai superar mais este desafio e prevenir-se de futuras epidemias e pandemias.

"Unidos podemos superar qualquer adversidade e construir um futuro mais saudável e próspero para todos os cidadãos da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral”, aclarou o Chefe de Estado, lembrando que Angola se comprometeu a liderar o processo de integração e desenvolvimento regionais, orientados pelo lema "Capital Humano e Financeiro: Os Principais Factores para a Industrialização Sustentável da Região da SADC”.

O presidente da SADC elogiou o Conselho de Ministros e o Comité de Ministros da Saúde por terem deliberado, de forma diligente, sobre este surto de cólera e formulado recomendações com vista à preparação daquela cimeira extraordinária. Agradeceu, também, ao Secretariado da Organização, por ter facilitado a realização da reunião.

O presidente em exercício da SADC expressou, ainda, gratidão aos parceiros internacionais de cooperação e às agências das Nações Unidas pelo empenho constante e esforços incansáveis na luta contra a cólera e outras ameaças à Saúde Pública.

Disse que o trabalho valioso da OMS, da UNICEF, do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC-África) e de outros parceiros de cooperação internacionais, que cooperam com o Secretariado e os Governos da região, contribuiu para salvar inúmeras vidas e ajudou a trazer a esperança às comunidades.