Internacional
01 Novembro de 2023 | 15h42

Israel. Postura não inervencionista mina interesses da China na região

O grupo de reflexão Chatham House considerou hoje que a posição "não intervencionista" da China no conflito Israel -- Hamas visa minar a influência norte-americana na região e atrair simpatia do Sul Global, mas prejudica os interesses de Pequim.

China tem de compreender que, neste período crucial, uma diplomacia apenas de palavras é a última coisa que os povos [da região] querem", apontou o grupo de reflexão ('think tank'), num relatório.

O Chatham House estabeleceu um paralelo com a posição da China sobre a guerra na Ucrânia, à medida que Pequim se tenta posicionar como a potência neutra que deseja a paz, e retratar os Estados Unidos como "influência violenta e desestabilizadora" na região.

"Mas os comentários da China sobre a guerra e a sua posição não intervencionista significam que é incapaz de influenciar os acontecimentos", observou o 'think tank' com sede em Londres, salientando que "é uma posição desconfortável quando os seus interesses estão diretamente ameaçados pela guerra".

Segundo dados das alfândegas chinesas, o volume do comércio entre China e Médio Oriente quase duplicou nos últimos cinco anos para 507,2 mil milhões de dólares.

A China é também o maior comprador de petróleo da Arábia Saudita e do Irão, dois rivais regionais, evidenciando os riscos para a sua segurança energética suscitados por um potencial conflito em larga escala na região.

"Estes interesses significativos são vulneráveis a guerras e instabilidade regional - mas os líderes chineses só podem assistir ao desenrolar dos acontecimentos à distância", apontou o Chathamhouse. "A China deve agora compreender que o desanuviamento transacional entre rivais regionais como a Arábia Saudita e o Irão não constitui necessariamente uma paz", acrescentou.

Como parte dos esforços para exercer maior influência no Médio Oriente, Pequim mediou este ano o restabelecimento das relações entre Irão e Arábia Saudita.

Nos dias após o ataque do Hamas, a China lançou uma ofensiva diplomática e apresentou-se como "amiga de ambos Israel e Palestina".

O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, apelou à realização de uma "conferência internacional para a paz", visando encontrar uma solução para o conflito, e Pequim enviou um diplomata de alto nível para o Médio Oriente, Zhai Jun, que prometeu "conduzir uma conciliação e mediação imparciais".

Mas a China absteve-se em declarações oficiais de descrever como terroristas os ataques do Hamas. O país asiático afirmou ainda que os ataques de retaliação israelitas em Gaza ultrapassam o que é considerado aceitável ao abrigo do direito humanitário internacional.

Em contraste, os EUA enviaram dois porta-aviões para o leste do Mediterrâneo para "dissuadir ações hostis contra Israel ou qualquer esforço direcionado a ampliar a guerra após os ataques do Hamas".

O Presidente norte-americano, Joe Biden, negociou ainda com o Governo israelita a autorização da entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza a partir do Egito e pediu a Telavive que respeite as "leis da guerra" no ataque a Gaza, enquanto defendeu o "direito à dignidade e à autodeterminação" dos palestinianos e a solução dos dois Estados.

"Os EUA demonstraram o seu apoio contínuo em Israel e a sua capacidade de influenciar a política israelita", observou o Chathamhouse. "A China limitou-se a expressar objeções e a apelar à paz", realçou.

"Possuir as capacidades de uma grande potência é uma coisa", notou, ressalvando que "agir como grande potência é outra".

Fonte: NM