Política
31 Outubro de 2023 | 10h02

Angola defende mais agilidade do Sistema da ONU

A secretária de Estado para as Relações Exteriores, Esmeralda Mendonça, considerou, segunda-feira, em Luanda, que as novas ameaças, como a propriedade intelectual e as sucessivas ameaças de uso de armas nucleares, exige nova agilidade do Sistema das Nações Unidas.

Ao proferir o discurso em alusão ao 78º aniversário da Organização das Nações Unidas (ONU), assinalado no dia 24 deste mês, a diplomata apontou, igualmente, entre as novas ameaças os esforços para minar a liberdade na internet, os efeitos provocados pelas mudanças climáticas, a crise energética, a insegurança alimentar, bem como a eminente crise económica e financeira, entre outras.

Na presença de membros do corpo diplomático acreditado em Angola, Esmeralda Mendonça sublinhou que a ONU tem resistido às reformas significativas nos seus órgãos, que muitas vezes não têm transparência nos seus processos, o que considerou preocupante.

A secretária de Estado para as Relações Exteriores, referiu que o 78º aniversário da ONU acontece num momento em que o mundo enfrenta desafios prementes e difíceis, que têm posto à prova a resiliência daquela instituição.

"Debatemo-nos com situações de vária ordem, desde os vários conflitos em África, que perduram há muito tempo, o conflito na Europa e, mais recentemente, assistimos ao reacender da guerra no Médio Oriente, que opõe Israel ao Hamas, com consequências humanitárias catastróficas”, referiu.

Para Esmeralda Mendonça, constitui o momento certo para questionar os pontos fortes e fracos da instituição, analisar e aprender com os seus fracassos e comemorar as suas realizações. "Juntos podemos construir sociedades melhores e mais fortes e enfrentar os desafios que temos pela frente”, considerou a secretária de Estado, para que as Nações Unidas, como organização internacional única, universal e mais representativa, jogam um papel fundamental neste sentido.

Na comemoração deste ano, a governante destacou a parceria entre Angola e a ONU para cumprir a Agenda 2030 no país e por meio de um modelo abrangente de desenvolvimento sustentável que promova o bem-estar de todos, sob o princípio de "Não deixar ninguém para trás e não deixar ninguém de fora”.

Angola e a equipa da ONU no país, disse, uniram forças para alcançar a referida Agenda, com base no quadro de cooperação para o Desenvolvimento Sustentável 2024-2028, concentrada em quatro áreas de trabalho: desenvolvimento do capital humano, governação democrática e direitos humanos, diversificação económica e sustentabilidade do sistema alimentar, resiliência climática e gestão sustentável dos recursos naturais e igualdade.

Relativamente à igualdade, Esmeralda Mendonça referiu, a título de exemplo, a promoção da empregabilidade dos jovens e as parcerias público-privadas.

Ainda no quadro do 78º aniversário da ONU, a secretária de Estado para as Relações Exteriores recordou que a data marca a entrada em vigor da Carta das Nações Unidas, documento fundador da organização, cujo preâmbulo reafirma "os direitos fundamentais do homem, a dignidade e o valor do ser humano, a igualdade de direitos dos homens e das mulheres, assim como das nações, quer sejam grandes ou pequenas.

Este documento de referência, referiu, incorpora as esperanças, sonhos e aspirações dos povos. A diplomata sublinhou, neste particular, que a ONU continua a representar a esperança de um mundo melhor, onde todas as nações se unem para enfrentar desafios comuns.

"O mundo está a passar por rápidas mudanças e precisa de uma ONU forte mais do que nunca”, defendeu Esmeralda Mendonça, garantindo que, não importa como mude a situação internacional, "Angola vai dedicar-se a defender o sistema internacional, tendo como núcleo a ONU e a apoiar que a entidade desempenhe um maior papel nos assuntos internacionais”.

Esmeralda Mendonça reconheceu que, em muitos aspectos, a ONU provou ser um "experimento bem-sucedido”, com capacidade de congregar a maior parte dos países. Apesar de algumas "falhas infelizes”, referiu, os capacetes azuis da ONU trabalham para manter a paz durante décadas, por meio de missões em todo o mundo, através de organizações como a World Food Program que salvam vidas e melhoram as perspectivas de um futuro mais próspero para a humanidade.

Esse compromisso, disse, garante que as organizações da ONU consigam atingir milhões de pessoas necessitadas, coordenar a acção humanitária global e reunir-se em questões que exigem acção urgente.

Angola, segundo ainda Esmeralda Mendonça, reconhece o trabalho dos colaboradores e funcionários da ONU que em todo o mundo salvam milhões de vidas. Destacou, ainda o facto de, graças ao trabalho das Nações Unidas, mais de 160 milhões de pessoas em todo o mundo receberem alimentos e assistência humanitária.

Além disso, disse, a ONU fornece vacinas para quase metade das crianças do mundo e ajuda a salvar 3 milhões de vidas a cada ano, bem como assistência e protecção, todos os dias, a mais de 117 milhões de pessoas que fogem da guerra, fome e perseguição.


ONU reitera  parceria  com o Governo

Depois da felicitar  o Executivo pela aprovação recente do Plano Nacional de Desenvolvimento 2023-2027, que coloca no centro os investimentos no capital humano, a coordenadora residente do Sistema das Nações Unidas em Angola disse que a ONU está preparada para, juntamente com o Governo, promover a prosperidade no país.

Zahira Virani adiantou que a ONU em Angola acaba de desenvolver o seu próximo quadro de cooperação que deverá ser executado em parceria com o Governo, parceiros, doadores e sociedade civil, investindo nos 4 Ps (Pessoas, Prosperidade, Planeta e Paz. A diplomata considerou ambicioso o novo quadro de cooperação.

Sobre o tema do Dia da Organização das  Nações Unidas, "Igualdade, liberdade e justiça para todas e todos”, disse ser tema relevante. "O que nos impulsiona é a esperança de algum dia alcançarmos a paz, prosperidade e um futuro melhor. Esperança na Humanidade para que se faça melhor, sem nunca deixar ninguém para trás”.

Zahira Virani admitiu que está com "profunda vergonha”, pelo facto da Humanidade parecer estar longe de alcançar a paz, igualdade e prosperidade prometidas pela ONU.

A diplomata referiu-se ao processo de paz em Angola, tendo elogiado a forma como os angolanos deixaram para trás o longo conflito armado. "Angola pagou o pesado preço da guerra e os angolanos aprenderam o valor da paz, do silenciar das armas e hoje, apenas duas décadas depois do silêncio das armas, lidera a região e o continente rumo à paz e reconciliação”, disse.

"O Sistema da ONU, eu e todos os meus colegas estamos prontos e ao vosso serviço para promover a paz e ajudar o continente a dar mais um passo em prol das nobres ideias estabelecidas na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos Humanos”, garantiu.

Zahira Virani sublinhou que as balas e as bombas não são os únicos meios que ameaçam a Humanidade e roubam o sorriso do rosto de crianças inocentes. "A paz, por si só, não garante a prosperidade. É necessária, mas não é o suficiente. Investir nas pessoas, na educação, saúde, na protecção social são igualmente essenciais”, defendeu.


EUA defendem mecanismos pacíficos

O embaixador  dos Estados Unidos da América (EUA) em Angola, Tulinabo Mushingi, disse que o posicionamento dos Estados Unidos da América (EUA)  diante de tantos conflitos e violência é em prol da paz em todo o mundo.

Segundo o diplomata, os Estados Unidos da América  estão a trabalhar sobre este dossier e durante toda a sua história promove a estabilidade no mundo, o respeito pelos Direitos Humanos, liberdade de imprensa e todos os valores que partilha.

Tulinabo Mushingi destacou, com efeito, o papel da ONU em todo este processo. "A única certeza é que precisamos das Nações Unidas para ter uma organização mundial onde todos podem discutir e analisar as questões mundiais mais importantes”, disse.

A Administração Biden, segundo Mushingi, considera a política multilateral importante. "Nunca um país sozinho vai resolver os desafios, mas juntos podemos procurar algumas soluções para enfrentar esses desafios do mundo actual”, disse.

Confrontado com o posicionamento de alguns países que apontam as grandes potências mundiais, incluindo os EUA, de serem os que mais desautorizam as Nações Unidas, o embaixador Tulinabo Mushingi respondeu socorrendo-se do pronunciamento do Presidente Joe Biden: "Devemos promover o multilateralismo e cada país tem um papel a jogar. Devemos aproveitar as diferentes vozes de todos os países do mundo”.

O embaixador de Itália, Cristiano Gallo, defendeu reformas no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas para que o Sistema trabalhe melhor e com mais membros.

 A título de exemplo, disse que a Itália tem uma proposta para aumentar o número de membros não-permanentes, para uma maior democraticidade do grupo.

O diplomata reconhece as Nações Unidas como a organização mais importante que permite a participação de todos os países nos assuntos mundiais. Reconheceu que a ONU tem desenvolvido um grande trabalho para garantir um consenso entre os grupos e as nações, mas ainda persistem exigências para mudar os mecanismos desta organização mundial.

Fonte: JA