Sociedade
23 Outubro de 2023 | 16h12

Marcha de sensibilização contra o cancro da mama realizada na Avenida Marginal

O Governo Provincial de Luanda promoveu, domingo, uma marcha denominada “Caminhada Outubro Rosa-Luanda Precisa de Ti”, com o objectivo de consciencializar as mulheres e a sociedade sobre a importância da prevenção e diagnóstico precoce do cancro da mama e do colo do útero.

A marcha pacífica, realizada na Marginal de Luanda, contou com a presença de centenas de pessoas de diversas instituições públicas e privadas, provenientes dos nove municípios da capital do país, assim como membros da Liga Angolana Contra o Cancro (LAAC), da Associação de Mulheres Portadoras de Deficiência Física e de diferentes organizações da sociedade civil, que se juntaram à causa.

Na ocasião, o governador de Luanda, Manuel Homem, disse que a iniciativa foi feita para chamar a atenção das pessoas sobre a importância da protecção da saúde e da  solidariedade com todas as pessoas acometidas pelo cancro da mama.

"Este é um dia de muita felicidade, porque conseguimos sentir o comprometimento dos cidadãos de Luanda com uma causa nobre, porque a saúde e o bem-estar de todos é uma preocupação também do Governo Provincial”, disse.

Neste mês dedicado à luta contra o cancro da mama, continuou, o Governo Provincial de Luanda tem estado empenhado em iniciativas similares, como forma de reiterar o compromisso de estar com aqueles que sofrem com a doença e também sensibilizar as mulheres e homens em relação à necessidade de todos realizarem o auto-exame da mama.

"É cada vez mais importante a mobilização da sociedade em geral, para maior consciencialização dos jovens, sobretudo as mulheres, que devem aceder aos centros hospitalares para as consultas de rotina, pelo facto do diagnóstico precoce oferecer maior oportunidades de cura”, apelou.

Manuel Homem sublinhou que as acções para a prevenção ao cancro da mama devem ser feitas por todos, uma vez que a patologia também afecta homens. "Vamos continuar a passar a informação para os homens compreenderem também que podem ser vítimas e precisam preservar a saúde”.

No final da marcha, o governador reafirmou, ainda, o compromisso em continuar a apoiar iniciativas do género, no sentido de ajudar a reduzir os casos de cancro da mama.

A prevenção, continuou, é o maior remédio contra o cancro. "Se cada um conseguir fazer o auto-exame da mama e procurar imediatamente os serviços de saúde para o diagnóstico precoce, certamente os resultados serão melhores”, disse.

Para homenagear todas as vítimas do cancro da mama, o governador e os participantes soltaram balões brancos. 

A marcha realizada ontem contou ainda com a participação dos vice-governadores para o sector Político e Social de Luanda, Manuel Gonçalves, para os Serviços Técnicos e Infra-Estruturas, Cristino Ndeintunga, e para o Sector Económico, Gilson Carmelino, e da secretária-geral da Organização da Mulher Angolana (OMA), Joana Tomás.

Cuidar da saúde

A presidente da LAAC apelou às pessoas em geral a cuidarem cada vez mais da saúde. Aos doentes, aconselhou a terem em conta que a vida não termina tão logo a pessoa seja diagnosticada com o cancro da mama. "É preciso vencer o cancro e se todos estiverem unidos é possível fazer mais”, disse.

Luzimira João encorajou as mulheres e homens a procurarem uma unidade de saúde, caso observem um nódulo na mama ou nas axilas. "Só um profissional da saúde pode dar um diagnóstico precoce da doença”.

O cancro da mama, destacou, tornou-se um problema de saúde pública, que merece a atenção especial do Executivo, por meio da criação de políticas mais abrangentes para o combate, prevenção, tratamento e  acompanhamento dos pacientes diagnosticados com a doença.

Cada um, referiu, deve ser um representante desta luta na comunidade e em qualquer ciclo social em que esteja inserido, para que pelo menos 60 por cento das pessoas afectadas pela patologia descubram ainda na fase inicial e tenham 95 por cento de possibilidades de cura.


Feira de saúde

Por ocasião da marcha para incentivar as pessoas para a prevenção do cancro da mama, o Gabinete da Saúde de Luanda realizou uma feira, na qual fizerem exames de rastreio do cancro da mama, consultas de clínica geral, de saúde mental e de nutrição, assim como testes rápidos de malária, VIH/Sida e vacinação contra diversas patologias.

 
A doença

O cancro da mama é um tumor maligno formado pelo crescimento de células de maneira desordenada, com o crescimento de um ou mais nódulos na mama.

 De acordo com especialistas, a patologia não tem uma causa única, diversos factores estão relacionados ao aumento do risco de desenvolver a doença. Além da idade, constam entre os factores de risco a genética, hereditariedade, o início precoce da menstruação e o seu término tardio.

As gestações acima dos 35 anos, não amamentar, factores comportamentais como uso excessivo de bebidas alcoólicas, tabagismo, alimentação pouco saudável, falta de actividade física, exposição ao sol, radiações químicas e o uso de alguns medicamentos, são também apontados pelos especialistas como factores de risco.

Dados do Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC) apontam que de Janeiro a Setembro do ano em curso 230 novos casos de cancro da mama foram diagnosticados.

 A patologia ocorre geralmente em idades mais avançadas, a partir dos 40 anos, mas nos últimos meses está a afectar a faixa etária dos 20 e, em alguns casos, um pouco mais cedo.

Dos novos casos de cancro da mama registados anualmente, um por cento são homens. Actualmente, o IACC tem o registo de 20 casos de cancro da mama em homens. O diagnóstico tardio da doença dificulta o tratamento do cancro da mamae tem sido a principal causa de morte.

O Instituto Angolano de Controlo de Câncer, localizado em Luanda, é a única instituição pública especializada para o acompanhamento e o tratamento de pacientes com cancro.


Doentes   defendem   legislação    específica

A criação de uma legislação para a protecção de pessoas diagnosticadas com cancro é, para muitos pacientes oncológicos, um passo importante para reduzir as dificuldades enfrentadas durante e depois do tratamento médico, assim como de ter uma maior atenção do Estado quanto à prestação de apoios, sobretudo para os que vivem em situação de vulnerabilidade.

Para muitos doentes, a entrada em vigor da referida legislação permitiria também que as empresas públicas, privadas e pessoas singulares consigam dar um tratamento mais humanizado e assim acabar com todas as formas de discriminação.

Engrácia Muto é uma das doentes que foi diagnosticada com cancro da mama em Março do ano passado e submetida a oito sessões de quimioterapia, antes de ter a mama direita removida. Desde que foi diagnosticada com a patologia, enfrenta várias dificuldades com a entidade patronal, por causa das faltas no local de trabalho, devido ao tratamento.

Actualmente, continuou, vai ao  Instituto Angolano de Controlo de Câncer (IACC)  para as sessões de radioterapia nas primeiras horas do dia e depois tem de ir ao local de trabalho. "Esta situação é bastante preocupante e difícil, por isso, nós solicitamos mais humanização a nível das empresas e da sociedade em geral. O tratamento contra o câncer é bastante agressivo e provoca várias reacções, por isso, as entidades patronais deveriam entender que é necessário repouso médico".

Devido às consequências do tratamento, disse, há a necessidade urgente da aprovação de uma lei que proteja os doentes oncológicos, respeitando todas as orientações médicas até amenizar a situação de saúde do trabalhador. "As empresas devem ter mais sensibilidade quando o funcionário se encontra nesta situação”, lamentou.

Letícia Sérgio é outra mulher diagnosticada com cancro da mama em 2021, que também enfrenta várias dificuldades, sobretudo pela condição de desempregada que a obriga a depender totalmente  da família para dar seguimento ao tratamento médico. 

 Quando foi diagnosticada com a doença, estava desempregada, revelou, acrescentando que até ao momento não conseguiu arranjar um emprego para sustentar-se.  "Tem sido uma fase muito difícil para mim e a minha família. Já bati algumas portas e solicitei uma vaga em várias empresas, mas nenhuma se mostrou disponível para empregar um paciente oncológico”, lamentou.

Fonte: JA