Internacional
16 Outubro de 2023 | 16h52

ONU apela à UE para aumentar a sua ajuda à Palestina

A agência das Nações Unidas para os refugiados palestinianos no Médio Oriente (UNRWA) pediu hoje à União Europeia que aumente a ajuda humanitária à Faixa de Gaza, que vive uma situação "sem precedentes".

"É hora de redobrar os esforços tanto da União Europeia (UE) como dos países-membros, pensando não apenas no que está a acontecer agora, mas também no futuro", declarou à agência de notícias EFE a diretora da UNRWA na Europa, Marta Lorenzo.

Este apelo surge na véspera da realização de uma cimeira extraordinária por videoconferência convocada pelo Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, para que os líderes dediquem tempo a discussões estratégicas sobre medidas de curto e médio prazo e os próximos passos face à crise aberta entre Israel e o Hamas, segundo fontes europeias.

Marta Lorenzo sublinhou que a UE sempre foi um parceiro "estratégico" da UNRWA, uma vez que é "um dos maiores doadores", alertando ainda para a instabilidade financeira "muito importante" em que esta agência da ONU já se encontrava antes desta crise na Faixa de Gaza, nomeadamente sobre pagamentos que deverão ser feitos até novembro.

"É por isso que fizemos um apelo de emergência de 104 milhões de dólares para atender às necessidades mais urgentes. Este apelo provavelmente duplicará ou triplicará em poucos dias", alertou a responsável da UNRWA na Europa.

Questionada sobre o desempenho algo errático da Comissão Europeia na semana passada em relação à ajuda da UE à Palestina, Marta Lorenzo sublinhou que abordar "as necessidades humanitárias mais urgentes e o cumprimento do Direito Internacional Humanitário não é uma coisa opcional".

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que no sábado anunciou um aumento da ajuda humanitária à Palestina para 75 milhões de euros, tem sido criticada nos últimos dias por ter advogado o direito de Israel de se defender sem pedir, pelo menos publicamente, às autoridades israelitas que respeitem o direito internacional, durante a visita da última sexta-feira.

Lorenzo, com uma longa história na ajuda humanitária internacional, a maior parte dela na Palestina, assegurou que o que está a acontecer em Gaza "é sem precedentes", nomeadamente no deslocamento massivo de pessoas - só nos seus abrigos têm 400 mil pessoas, em comparação com o esperado máximo de 150.000 -, enquanto Israel corta serviços básicos como água, eletricidade e combustível.

"Estamos totalmente sobrecarregados. Há uma crise humanitária que não podemos mais enfrentar. As necessidades são enormes", disse Lorenzo.

A responsável da UNRWA alertou para a falta de "absolutamente tudo, mas talvez o mais importante seja água e combustível", além de alimentos e medicamentos em clínicas de atenção primária, das quais apenas oito estão em funcionamento e não têm capacidade para atender feridos ou mulheres prestes a dar à luz, por exemplo.

A maior parte das pessoas deslocadas está agora no sul de Gaza, segundo Lorenzo, e a UNRWA não tem capacidade para lidar com "tal emergência".

Antes da ordem de Israel para a evacuação do norte de Gaza, a UNRWA já tinha 170 mil pessoas abrigadas nas suas escolas, disse Lorenzo, acrescentando que muitos palestinianos "decidiram ficar [no norte de Gaza] simplesmente porque não é possível se movimentar neste contexto de insegurança", sendo a maioria destes idosos, mulheres e crianças.

Marta Lorenzo apelou à abertura urgente de canais para a chegada da ajuda humanitária.

"Para nós é absolutamente urgente que o posto fronteiriço de Rafah seja aberto, que seja permitida a entrada de combustível, água e mantimentos básicos", afirmou.

E também chamou a atenção para a situação na Cisjordânia, que também preocupa a UNRWA.

"Foi um dos anos em que mais violência foi relatada na Cisjordânia, inclusive dentro dos campos de refugiados. O principal problema do nosso pessoal agora é conseguir aceder às instalações", referiu.

Marta Lorenzo lamentou que esta é "uma crise humanitária catastrófica com consequências a longo prazo".

Fonte: NM