Internacional
16 Outubro de 2023 | 16h35

O luto multiplicado de Gaza. Pelo menos 45 famílias deixaram de existir

O governo palestiniano dá conta de 45 famílias cujas gerações foram completamente perdidas, com todos os membros mortos por ataques israelitas.

Com o exército israelita perto de lançar uma ofensiva terrestre na Faixa de Gaza, os cerca de dois milhões de palestinianos no interior continuam a tentar fugir aos bombardeamentos, a tentar sobreviver e, no meio, a tentar enterrar os mortos. O mais recente balanço das autoridades palestinianas aponta para pelo menos 2.750 mortos, mas milhares continuarão debaixo dos escombros dos muitos prédios arrasados pelas bombas.

As cerimónias fúnebres nunca são para apenas um familiar, ou sequer dois. Mohammad Al-Laham contou à Reuters, enquanto tomava conta da neta de quatro anos, Fulla Al-Laham, que um ataque aéreo atingiu a casa da família, matando 14 pessoas, incluindo os pais, irmãos e membros da família alargada da criança.

"De repente, e sem aviso, bombardearam a casa com todos os residentes no interior. Ninguém sobreviveu excepto a minha neta", lamentou.

Em Khan Younis, Mohamed Abo Dakka disse que a sua família ainda se encontrava debaixo dos escombros, mas não há materiais para retirar os corpos ou verificar se há sobreviventes. "Perdi o meu filho, os meus primos, a família toda".

Já Nasser Abu Quta, que vivia em Rafah, perdeu 19 familiares. "Isto era uma casa segura, com crianças e mulheres. Primeiro o pó abalou a casa. Depois houve gritos. Ficamos sem paredes, ficou tudo aberto", disse à Associated Press.

E Muhammad al-Najjar, membro da autoridade jurídica local, perdeu ontem 15 familiares.

Histórias como estas vão-se multiplicando, com as forças de Israel na Faixa de Gaza, impulsionadas pelos ataques do Hamas em território israelita (que mataram cerca de 1.400 israelitas), a largarem mais bombas no espaço de uma semana do que os Estados Unidos largaram por ano ao longo de toda a guerra do Afeganistão. Muitas famílias em Gaza moram todas juntas numa única habitação, dado o muito pouco espaço para a grande densidade populacional da região, onde cerca de 2,3 milhões de palestinianos vivem numa área mais pequena do que a área do concelho de Barcelos.

Segundo os dados do Ministério da Saúde palestiniano, 45 famílias foram apagadas do registo civil, com todos os membros e todas as gerações mortas pelos ataques israelitas.

Uma grande parte dos mortos, mais de 700, são crianças - morreram mais crianças em uma semana do que ao longo de toda a guerra na Ucrânia. Para este número é importante a demografia da Faixa de Gaza, onde metade da população tem menos de 18 anos e 40% tem menos de 14 anos.

Fonte: NM