Economia
02 Outubro de 2023 | 17h24

Angola era o quarto maior produtor de café há 50 anos

Os índices de produção de café melhoraram significativamente nos últimos anos, essencialmente na província do Uíge, em muito fruto do alargamento das áreas de acção para a cultura. As notícias são (muito) boas para um país (Angola) que já esteve no topo da produção do café na ida época colonial e que tinha no ‘bago vermelho` uma fonte de prosperidade

Durante o período colonial, o café, nomeadamente o "robusta”, deu a Angola o quarto lugar entre os maiores produtores do mundo, a seguir a países como o Brasil, Colômbia e México, o maior produtor de café robusta no continente africano e um dos maiores exportadores mundiais de café em grão. Só para exemplificar: em 1972, chegaram a ser exportadas 400 mil toneladas, produzidas em cerca de três mil plantações localizadas, a grande maioria, no Uíge, mas também nas províncias do Bengo, Cuanza-Norte e Cuanza-Sul.

É difícil não se associar o café ao Uíge, uma das maiores riquezas alguma vez cultivadas em solo angolano. De tal forma que a região do Uíge era tradicionalmente conhecida como "terra do bago vermelho”, numa altura em que o café era a fonte principal de rendimentos para muitos, cultura  tida como o grande símbolo da zona. O café era, de facto, reconhecido como a "riqueza do povo”, por ser acessível a qualquer cidadão que, mesmo rudimentarmente, conseguia organizar e gerir os produtos, em grande ou pequena quantidade.

Por isso, na década de 70, Carmona era naturalmente uma cidade próspera, inclusive com diversas infra-estruturas que outras cidades não tinham, como um aeroporto, o aero clube, a piscina, uma delegação do Banco de Angola, escola técnica, colégio, o Rádio Clube do Uíge, um grande hotel, clube recreativo,hospital e outros serviços de grande dimensão.

Após a independência, a parte de leão das plantações foram nacionalizadas e distribuídas por 33 empresas no início de 1980. A isso juntou-se a queda dos preços do café no mercado internacional e, consequentemente, o colapso do sistema de quotas de exportação da Organização Internacional do Café, o que prejudicou muito a situação: 5 mil toneladas em 1991 e apenas 3 mil em 1993. Os rendimentos do café em Angola, equivalentes a 164 milhões de dólares nos finais da década de 70,  não atingem hoje  números sólidos

13 marcas de café de Angola à mesa no Japāo

Tantas décadas depois, o Executivo angolano planeia regressar aos tempos áureos.  A determinação pode ser observada de diversas  formas, desde investimentos agora prometidos à iniciativa no âmbito da diplomacia económica para o relançamento do café nacional, com  sessão de degustação   em vários cantos  do mundo.

Destaque para a  sessão do passado mês de Março, onde   café oriundo de Angola teve a mesa posta na UCC Coffee Academy (a mais prestigiada instituição de ensino  japonesa especializada  em café) e na Embaixada de Angola em Tóquio, a capital do Japão, entre os dias 23 e 26 .

Apresentados pelo INCA (Instituto do Café de Ango-la), Cooperativa das Mulheres da Gabela, Bela Negra, Ginga, Vems, Calulo, Galileia, Ndioto, Tumbwaza, Cazengo, Negage, Diamante, Maiombe e Novagrolider foram as 13 marcas de café com degustações para o público, composto por cerca de 100  empresários, em sessões de quatro horas, divididas entre a Embaixada de Angola no Japão e UCC Coffee Academy.

Para além do café, a sessão de degustação incluiu ainda a aguardente "Made in Angola” Terra da Xixila, sugestão que acompanhou bem o produto-base que protagonizou o evento.

Além de experimentar uma grande variedade de rótulos, os encontros em Tóquio serviram também para troca de cartões  entre a delegação angolana e empresários japoneses.

Entre eles, estava Masahuaru Urano, em representação da Certified Associate Instructors. Magalhães Alfredo Lourenço, director-adjunto do INCA, explicou que o empresário nipónico "manifestou interesse em apoiar os produtores familiares do café, preservando a biodiversidade”.

Na mesma declaração, Magalhães Alfredo Lourenço, que foi responsável pela apresentação, em palestra, sobre as características "especiais” do café de Angola, revelou o interesse observado "por um número considerável de empresários, que se disponibilizaram para manter contactos com empresas nacionais produtoras de café, com o objectivo de  importarem o nosso ‘bago vermelho’”.

Entre as reacções destacou-se a do então embaixador de Angola no Japão, Rui Orlando Xavier, que depois de lembrar que "Angola foi, em 1973,  dos maiores exportadores mundiais de café”,  desafiou os empresários nipónicos a "apostarem neste precioso produto, com perspectivas de um dia podermos vê-lo a ser comercializado em restaurantes ou bares por todo o Japão”.

Outro diplomata defendeu a sustentabilidade na cafeicultura, no contexto da diversificação económica, enquanto a primeira secretária para a Cooperação Internacional do Ministério das Relações Exteriores (MIREX), Lara Proença, detalhou "o carácter importante do encontro”, pois "é uma iniciativa no âmbito da diplomacia económica para o relançamento do café nacional”.

Antes de desembarcar no Japão, a iniciativa do MIREX, intitulada "Café Angola Conectando as culturas do Mundo”, teve também lugar no Vietman, Emirados Arábes Unidos, Egipto e Sérvia.

Fonte: JA