Sob moderação do também escritor António Quino, a conferencista da semana fez uma resenha da história da literatura angolana pós-independência, sublinhando o período que designou "a gloriosa década de 80”, que foi marcada por uma etapa de revolução estética de diversificação temática: "Os anos 80 foram importantes pela dinâmica, pelo nascimento do associativismo literário. Pois foi nesta altura que nasceu a brigada jovem de literatura”, lembrou o também membro da Academia Angola de Letras e seu primeiro Secretário-Geral.
O conferencista António Fonseca, lamentou o desaparecimento progressivo de livrarias, que havia pelos menos por todas as capitais de províncias, bem como o retrocesso das grandes dinâmicas de produção, distribuição e consumos de produtos literários.
Para o escritor, o período áureo da década de 80 deveu-se também ao facto de existir então um Estado mais sensível às sessões cultuais: "Haviam homens da cultura lugares chaves da direção do aparelho estatal que ajudavam a tomar as melhores decisões. Mas sobretudo, havia a visão de que o livro era um factor importante para o desenvolvimento da sociedade” disse.
António Fonseca justificou o desinvestimento institucional na literatura e o empobrecimento de instituições, como a União dos Escritores Angolanos, pelo modelo económico adoptado posteriormente: "Hoje temos uma economia tendendo para o neoliberal, e esquecemos que o mercado não atende todas as áreas, teríamos sido mais prudente se adoptássemos uma economia mista, que garantisse o surgimento de mais postos de emprego, mas que salvaguardasse também o desenvolvimento cultural”, Referiu o escritor.
Durante o encontro o conferencista fez saber que a comissão multisetorial para o acompanhamento e implantação da Política Nacional do Livro e da Literatura, criada em 2018 pelo Presidente da República, João Lourenço, gerou muita expectativa entretanto gorada pela falta de resultados.
E acrescentou que esperava ver, na comissão, propostas de um Pano Nacional de Leitura, "infelizmente, nada. Vejam que um cânone da literatura ou um plano nacional de literatura seria uma boa para restaurarmos o ensino da literatura angolana. Se o professor não leu e não lê, como é que pode por alguém a ler?”, questionou.
O encontro contou com a presença de acadêmicos e investigadores de Angola, Bélgica, Brasil, Moçambique e Portugal.
A próxima conversa da Academia à Quinta -feira está agendada para o dia 15 de Junho, a partir das 19 horas. Sob moderação do antropólogo Virgílio Coelho, O filósofo George França dissertará o tema "a problematicamente do autismo: integração e acessibilidade”. A participação via ZOOM será livre.