Internacional
27 Fevereiro de 2023 | 08h38

Guterres pede "rotas seguras e legais" após mortes no naufrágio em Itália

O ONU apelou no domingo para que sejam garantidas "rotas seguras e legais" no Mar Mediterrâneo, na sequência de um naufrágio que matou pelo menos 59 migrantes ao largo da costa da Calábria, em Itália.


Outro horrível naufrágio ceifou a vida de dezenas de pessoas, incluindo crianças, desta vez na costa de Itália. Repito: todos aqueles que procuram uma vida melhor merecem segurança e dignidade", disse o secretário-geral das Nações Unidas, sobre o naufrágio ocorrido na madrugada de domingo.

"Precisamos de rotas seguras e legais para migrantes e refugiados", acrescentou António Guterres.

O Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, mostrou-se chocado com o sucedido e indicou que "é hora de os Estados pararem de discutir e chegarem a um acordo sobre medidas justas, efetivas e partilhadas para evitar mais tragédias".

Já a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM), liderada pelo português António Vitorino, reiteraram que os mecanismos de resgate da União Europeia são necessários. Os estados-membros devem "aumentar os recursos e as capacidades para cumprirem eficazmente as suas responsabilidades", referiram.

Uma ideia sublinhada em comunicado pela representante da ACNUR para Itália, Santa Sé e São Marino, que notou que, "num contexto histórico caracterizado por pessoas que fogem de conflitos e perseguições, é mais necessário do que nunca fortalecer a capacidade de resgate, que ainda é insuficiente, para evitar tragédias como esta".

"É inaceitável testemunhar tais horrores, com famílias e crianças confinadas a navios arruinados e não navegáveis. Esta tragédia deve-nos levar a agir e a agir de imediato", afirmou Chiara Cardoletti.

Pelo menos 59 pessoas morreram quando um barco com migrantes se afundou perto da cidade italiana de Crotone, de acordo com o último balanço feito por um autarca daquela localidade na Calábria, no sul de Itália.

"Até alguns minutos, o número de vítimas confirmadas era de 59", disse Vincenzo Voce ao canal de notícias Sky TG-24, às 16:00 de domingo (15:00 em Lisboa).

No anterior balanço, as equipas de socorro italianas davam conta de 45 corpos de migrantes encontrados e 80 sobreviventes do naufrágio, mas receavam que pudesse haver mais vítimas mortais.

Entre as vítimas encontram-se muitas crianças, incluindo um recém-nascido, e mulheres, segundo relatos dos socorristas.

A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, expressou, em comunicado, "profundo pesar" pela tragédia e disse que era "criminoso colocar um barco de 20 metros com 200 pessoas a bordo e uma previsão de mau tempo" no mar.

A incerteza quanto ao número de vítimas deve-se a diferentes relatos dos sobreviventes quanto às pessoas que viajavam no barco que naufragou.

O número de passageiros adiantado por sobreviventes varia entre 150 e 250, disseram elementos das equipas de socorro, admitindo haver dificuldades de comunicação com os migrantes por causa das diferenças linguísticas.

A imprensa italiana noticiou que os migrantes são do Iraque, Irão, Síria e Afeganistão, depois de inicialmente também ter sido referida a presença de paquistaneses.

Segundo a guarda costeira, o barco partiu-se nas rochas a poucos metros da costa, numa altura em que o mar estava muito agitado.

As imagens da polícia italiana mostravam destroços de madeira espalhados ao longo de uma centena de metros de praia, onde muitos socorristas e sobreviventes estavam à espera de serem transferidos para um centro de receção.

O naufrágio ocorreu poucos dias depois de o parlamento italiano ter aprovado novas regras controversas sobre o resgate de migrantes, formuladas pelo executivo dominado pela extrema-direita.

Meloni, líder do partido de extrema-direita Fratelli d'Italia, assumiu a chefia de um governo de coligação em outubro de 2022, após prometer reduzir o número de migrantes que chegavam a Itália.

A nova lei obriga os navios humanitários a efetuar apenas um salvamento de cada vez, o que, segundo os críticos, aumenta o risco de morte no Mediterrâneo central, que é considerado a travessia mais perigosa do mundo para os migrantes.

A localização geográfica da Itália torna-a um destino privilegiado para os requerentes de asilo que se deslocam do Norte de África para a Europa e Roma há muito que se queixa do número de chegadas no seu território.

Em reação à tragédia, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, pediram aos Estados-membros que acelerem um acordo sobre política migratória.

Segundo o Ministério do Interior, quase 14 mil migrantes desembarcaram em Itália desde o início do ano, contra cerca de 5.200 durante o mesmo período do ano passado e 4.200 em 2021.


Fonte: NM