Saúde
27 Fevereiro de 2023 | 08h37

Doenças reumatológicas vão receber maior atenção da Direcção de Saúde

As patologias do foro reumatológico, como lúpus, artrite e osteoporose, vão passar, nos próximos tempos, a ter respostas mais adequadas, caso sejam incluídas no grupo de doenças crónicas não transmissíveis controladas pela Direcção Nacional de Saúde Pública (DNSP).

Para materializar este projecto, em que estão, igualmente, previstas a inclusão da artrite psoriática, esclerose sistémica, síndrome de Sjorgreen, doença mista do tecido conjuntivo, osteoartrite e a espondilite anquilosante, o Colégio de Especialidade de Reumatologia da Ordem dos Médicos de Angola vai fazer chegar uma proposta à DNSP dentro em breve.

O coordenador do Programa Nacional de Doenças Crónicas Não-Transmissíveis, António Armando, esclareceu que tão logo essas patologias entrem para a gestão da DNSP passam a beneficiar de programas específicos, orçamentos e possíveis subvenções na compra de medicamentos.

O médico prestou essas informações durante o I Seminário Sobre a Doença de Lúpus, realizado sexta-feira, em Luanda, tendo considerado que algumas dessas patologias já começam a preocupar os especialistas da Saúde.

No caso da Doença de Lúpus Erimatoso Sistémico, alertou que os casos no país tendem a aumentar, mas, infelizmente, há falta de médicos especialistas em Reumatologia para diagnosticar a patologia e seguir os doentes com regularidade.

Por causa dessas limitações, o coordenador do Programa Nacional das Doenças Crónicas Não-Transmissíveis frisou que os pacientes de lúpus têm tido, também, muitas dificuldades em encontrar nas farmácias locais a medicação necessária que devem tomar diariamente, no sentido de controlar a enfermidade e evitar, assim, as fases agudas da patologia.

 

Causadora de absentismo laboral e escolar

Ao falar em representação da bastonária da Ordem dos Médicos de Angola, António Armando explicou que o lúpus não tem cura e, por isso, entra no grupo das doenças crónicas não-transmissíveis.

"Se olharmos para as estatísticas mundiais, vamos perceber que essas patologias estão na base de 50 por cento das mortes no globo”, salientou o médico.

Aliás, António Armando referiu-se a dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) para avançar que, actualmente, os cancros, a diabetes, hipertensão, doenças respiratórias agudas e patologias do foro reumatológico (como o lúpus) têm liderado a lista de principais causas de mortes.

O coordenador nacional realçou que os doentes de lúpus, por serem crónicos, na fase aguda da doença tendem a ficar internados ou em casa de repouso por muito tempo. "Isso provoca absentismo escolar e laboral, bem como um impacto negativo na economia das famílias, que têm parentes com a doença, e no Sistema Nacional de Saúde”.

Para enfrentar a doença, o especialista angolano fez referência que existem recomendações internacionais que visam um diagnóstico precoce e tratamento, uma vez que, apesar de a doença não ter cura, ela pode ser controlada.

Para alcançar essa meta, António Armando destacou a importância do treinamento de mais profissionais para que esses adquiram competências técnicas e científicas, no sentido de prestarem assistência a esses doentes. Outro aspecto importante é a disponibilização da medicação nos serviços nacionais de saúde. 

 

País só tem oito especialistas 

O país possui apenas oito médicos especialistas em Reumatologia e todos ao serviço de hospitais privados, revelou a presidente do Colégio de Reumatologistas da Ordem dos Médicos de Angola.

Esperança Nicolau salientou que havia uma reumatologista no Hospital Américo Boavida, mas essa acabou por optar pelo sistema privado.

Em relação ao número de doentes com lúpus, a médica reumatologista avançou que, só no consultório em que trabalha, já foram registados mais de 500 pacientes com a doença. "São crianças e adultos, número que preocupa, muito mais por escassez de profissionais para os seguir com regularidade”, lamentou.

A boa nova, segundo Esperança Nicolau, está no facto de que, dentro de três anos, o país possa dispor de mais três médicos reumatologistas. Esses profissionais vão ser formados no Brasil, para onde partem no próximo mês.

 

Tratamento oneroso

O tratamento para controlar a doença de lúpus é muito caro, daí a luta do Colégio para que as patologias reumatológicas entrem no grupo de doenças crónicas não-transmissíveis, no sentido de o Ministério da Saúde ajudar a minimizar os custos com os pacientes, disse.

Esperança Nicolau avançou que, actualmente, muitos pacientes, para realizarem exames completos, são obrigados a ir ao exterior do país, por falta de condições a nível interno no tocante a reagentes para se fazer o diagnóstico da doença atempadamente.

Em relação aos medicamentos, a médica especialista referiu que o único que aparece, mas com muita dificuldade e a preço alto, é o hidróxido de cloroquina, cuja caixa com dez comprimidos pode custar sete a dez mil kwanzas.

"O doente lúpico tem de tomar um comprimido por dia, durante a vida toda”, disse, para salientar que os demais medicamentos (como os imunossupressores) têm de ser comprados no exterior, por não aparecerem no mercado nacional, e pelo facto de os países produtores quase não fazerem doações.

Uma doença que ataca vários órgãos

A especialista em Reumatologia definiu o lúpus como uma doença inflamatória, crónica, de origem autoimune, podendo afectar múltiplos órgãos e tecidos, causando dor nas articulações.

  Pacientes devem buscar aconselhamento antes de engravidar

A reumatologista aconselhou as mulheres com lúpus, caso decidam engravidar, além do médico gineco-obstetra que a acompanha, devem, também, ser seguidas, rigorosamente, por especialistas em Reumatologia até à altura do parto.

"O referido bebé precisa de ser também seguido por um pediatra reumatologista até pelo menos um ano de vida, para se descartar qualquer possibilidade de ter a doença de lúpus”, aclarou.

Esperança Nicolau salientou a importância dessa necessidade pelo facto de ao nascer, se a criança tiver lúpus, pode ter uma erupção cutânea, problemas no fígado ou baixa contagem de células sanguíneas.

Mas, tranquilizou, ao avançar que esses sintomas acima referidos desaparecem completamente após vários meses sem efeitos duradouros. "Mas, alguns bebés com lúpus neonatal podem ter um defeito cardíaco grave, daí que nos países desenvolvidos se fazem testes adequados e os médicos podem identificar e a criança ser tratada antes ou depois do nascimento”.  Os sintomas do lúpus podem surgir de repente ou desenvolver-se lentamente. Eles também podem ser moderados ou graves, temporários ou permanentes.

A maioria dos pacientes, salientou a especialista, apresenta sintomas moderados, que surgem esporadicamente em crises, nas quais os sintomas se agravam por um tempo e depois podem desaparecer.


Fonte: JA