Política
27 Fevereiro de 2023 | 08h35

Angola acolhe o Centro Regional de Energias Renováveis da África Central

Angola vai acolher, a partir de Março deste ano, a sede do Centro Regional de Energias Renováveis e Eficiência Energética da África Central, cujo papel passará por desenvolver estudos virados para as necessidades da região em termos destas matérias, soube o Jornal de Angola em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo.

A instituição vai estar localizada na província de Luanda e terá como finalidade a melhoria do acesso a serviços energéticos modernos, fiáveis e acessíveis, a segurança energética e a mitigação das externalidades negativas dos sistemas energéticos.

Pretende-se, com a instituição, a promoção de criação de um mercado da Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) integrado e inclusivo para produtos e serviços relacionados com energias renováveis e eficiência energética.

A instituição terá como missão coordenar a implementação da política da CEEAC sobre energias renováveis e eficiência energética.

As intervenções do Centro Regional de Energias Renováveis e Eficiência Energética da África Central vão estar centradas em actividades e projectos de Energias Renováveis e Eficiência Energética virados para a cobertura de um ou mais países da CEEAC, impacto regional ou projectos nacionais com forte potencial de extensão ou reprodução regional e a escala que beneficia toda a região, abrangendo, deste modo, áreas urbanas, periurbanas e rurais.

A cerimónia de inauguração do referido centro está prevista para o dia 10 de Março, na sede da instituição, localizada na área operacional do Gamek, na zona do Grafanil, rua das Antenas, em Viana, Luanda, sob a presidência do Ministério da Energia e Águas de Angola.

Devem marcar presença nesta cerimónia os representantes das autoridades administrativas, do sector privado, da sociedade civil de Angola, dos embaixadores dos Estados-membros da CEEAC e dos parceiros estratégicos da organização, além de outras entidades. Vai ser nesta ocasião em que o Governo de Angola fará a entrega oficial da instituição à Comunidade Económica dos Estados-membros da África Central.

Em entrevista exclusiva ao Jornal de Angola, sobre este assunto, o presidente da Comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Central, o embaixador angolano Gilberto Veríssimo, revelou que a escolha de Angola para albergar a sede do Centro Regional de Energias Renováveis e Eficiência Energética da África Central partiu dos Chefes de Estado e de Governo da região, a qual Angola também é parte, por conta dos avanços registados pelo país no quadro das energias renováveis.

"Angola é dos países, na nossa região, que tem melhor estruturado um programa realmente existente sobre as energias renováveis, sobretudo a solar”, realçou Gilberto Veríssimo, destacando que Angola tem um programa que não é muito visível na região, mas "tem um avanço que foi considerado pelos outros Estados, razão pela qual foi tomada essa decisão, em Julho de 2021, em Brazzaville”.

  Energia limpa a 80 por cento dentro de três anos

De recordar que o Presidente da República, João Lourenço, anunciou, em Dezembro do ano passado, em Washington, Estados Unidos da América (EUA), durante a participação na Cimeira EUA-África, que a meta do país é atingir 80 por cento de energia limpa dentro de três anos.

O Chefe de Estado fez saber, na ocasião, que a energia eléctrica produzida, neste momento, no país, já é menos proveniente de fontes poluentes, como de centrais térmicas movidas a diesel ou a gás, estando, agora, a privilegiar, cada vez mais, a de centrais hidroeléctricas.

O Presidente, que  interveio no Fórum de Negócios da Cimeira EUA-África, que analisou o tema "Construindo um futuro sustentável: parcerias para financiar infra-estruturas africanas e a transição energética”, referiu que o país já deu início, há algum tempo, ao processo de transição energética, abandonando, parcialmente, as fontes de produção de energia eléctrica poluentes, no caso as centrais térmicas, para investir, fortemente, na produção de energia hidroeléctrica.

O Presidente João Lourenço fez saber que, além das barragens de Laúca e de Cambambe, o país está a construir, com previsão de conclusão em três anos, a de Caculo Cabaça que, segundo sublinhou, vai produzir, sozinha, cerca de 2,1 gigawatts de energia e, nessa altura (dentro dos três anos), passará a produzir, aproximadamente, 9 gigawatts de energia eléctrica. Na sequência disso, disse estar, igualmente, em construção, com alguma parte já concluída, a rede de distribuição dessa mesma energia, que está a ser produzida na Bacia do Rio Kwanza, para ser levada a todos os cantos do país.

O Chefe de Estado referiu que essa energia já cobre todo o Norte e Centro do país, nomeadamente, as províncias do Huambo e do Bié, estando-se, neste momento, a trabalhar no sentido de conseguir financiamentos para transportá-la para o Sul, para cobrir as províncias da Huíla, Namibe, Cunene e, no Leste, as províncias da Lunda-Norte, Lunda-Sul, Moxico e Cuando Cubango.

Paralelamente a isso, o Presidente disse já ter iniciado, no país, a produção de energia solar, com a construção de parques fotovoltaicos, sendo que dois deles já se encontram a fornecer energia à Rede Eléctrica Nacional.

"Há dois parques que inauguramos este ano, sendo um no Biópio e outro na Baía Farta, ambos na província de Benguela, que foram construídos por um consórcio que engloba, também, a empresa americana Sun Africa”, realçou o Presidente, acrescentando que estes dois projectos já estão a contribuir no aumento da oferta de energia para as indústrias e as populações.

O Presidente assegurou, ainda, que o projecto de produção de energia solar vai continuar e adiantou que um deles será o maior que o país vai conhecer. "Vai ser construído no Sul de Angola, para beneficiar, essencialmente, quatro províncias, nomeadamente, o Namibe, Huíla, Cunene e Cuando Cubango”, destacou.

O presidente da Comissão da CEEAC acrescentou que o Centro Regional de Energias Renováveis e Eficiência Energética da África Central vai desenvolver todos os estudos referentes às energia srenováveis que a região necessitar, bem como ser responsável por desenvolver os estudos ligados à interligação de energia entre os diferentes Estados da região, para gerar, neste caso, a eficácia energética.

"Hoje, nós temos, por exemplo, na Guiné Equatorial, capacidade de energia que a região fronteiriça necessita. Outro caso dá-se com o Tchad, que tem problemas sérios de energia e que poderia receber ajuda dos Camarões, que tem menos problemas nessa área”, concluiu.

  A Comunidade Económica dos Estados da África Central

A Comunidade Económica dos Estados da África Central (CEEAC) foi criada em Libreville, Gabão, em Dezembro de 1981, tornando-se operacional apenas em 1985.

A organização visa, no essencial, promover a cooperação e o desenvolvimento auto-sustentável, com particular ênfase na estabilidade e a integração económica dos Estados-membros e contribuir para a melhoria da qualidade de vida das respectivas populações.

É constituída por 11 Estados-membros, nomeadamente, Angola, Burundi, Camarões, República Centro-Africana, Tchad, República do Congo, Guiné Equatorial, República Gabonesa, Rwanda, São Tomé e Príncipe, República Democrática do Congo.

A Comunidade Económica dos Estados da África Central mobiliza todos os seus recursos e sua energia para fazer da África Central uma região de paz, prosperidade e solidariedade, assente num espaço económico e político unificado em que cada cidadão circule livremente, a fim de garantir um desenvolvimento sustentável e equilibrado.

A Comissão da CEEAC, órgão executivo da organização, cobre o conjunto das actividades das instituições públicas, das empresas privadas, da sociedade civil e das populações da região numa perspectiva dinâmica integrante, baseada em cinco pilares: paz e segurança, mercado comum, meio ambiente e recursos naturais, ordenamento do território e infra-estrutura, género e desenvolvimento humano.

A organização defende que o crescimento económico, o bem-estar social e a preservação da natureza constroem-se através da integração regional que desenvolve a CEEAC entre os 11 países membros.

Preservar a paz e a segurança colectiva constitui, com efeito, um eixo forte das missões da Comissão, num clima hostil que envolve o terrorismo, o grande banditismo e o radicalismo religioso, contra os quais a CEEAC e os seus parceiros estruturaram o mecanismo de alerta rápido, a força multinacional e o protocolo de acção.

A protecção e a valorização do meio ambiente constituem, de igual modo, uma prioridade da CEEAC para proteger a fauna e a flora contra pilhagens e tráficos e garantir rendimentos perenes através da sua exploração sustentável e a promoção do turismo ecológico em prol das populações locais.

Para garantir estas múltiplas missões, a Comissão da CEEAC é financiada pelos países membros e leva a cabo, em paralelo, vários programas em colaboração com parceiros internacionais.


Fonte: JA