Internacional
26 Fevereiro de 2023 | 11h23

Bolsonaro "não deverá voltar muito rápido", diz sub-procurador do Brasil

O regresso do ex-presidente da República Jair Bolsonaro ao Brasil pode demorar devido ao que considera ser os ânimos "muito acirrados" no país, defendeu, este sábado, à Lusa, no Porto, o sub-procurador-geral da República, Alcides Martins.

A 7 de fevereiro, o ex-presidente brasileiro que se encontra nos Estados Unidos desde 30 de dezembro de 2022, afirmou que pretende regressar ao Brasil "nas próximas semanas" para coordenar a oposição ao chefe de Estado do país, Lula da Silva, mas tal ainda não se verificou.

Em declarações à margem da assinatura do protocolo entre a Faculdade de Direito da Universidade Católica e o Ministério Público Federal (MPF) do Brasil para a formação contínua de magistrados com vista a aprimorar a atuação do Ministério Público da União, Alcides Martins partilhou à Lusa algumas reflexões sobre o futuro de Bolsonaro.

Depois de admitir que o "que tramita" sobre o antigo chefe de Estado brasileiro "esteja sob um grau de sigilo", o sub-procurador-geral da República refletiu sobre o assunto como base na sua experiência.

"O meu juízo é que ele não deverá voltar muito rápido porque há relações muito tensas entre o grupo que saiu e o grupo que entrou [entre os anteriores governantes e os que saíram vencedores das últimas eleições presidenciais que ditaram a vitória de Lula da Silva] e isso dificulta o diálogo. Os ânimos estão muito acirrados e, voltando, pode ser vítima de alguma ação", sintetizou Alcides Martins.

O procurador abriu depois "um parêntesis para uma manifestação muito sincera" sobre dois casos que emergiram do ataque aos três poderes verificado a 08 de janeiro em Brasília, defendendo o secretário de Segurança do Distrito Federal Anderson Torres, que foi afastado do cargo, e Governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha.

"O Secretário de Segurança do Distrito Federal, que havia sido ministro de Bolsonaro, na situação dos crimes de dano praticados contra o Congresso, Supremo Tribunal Federal, principalmente, e Câmara dos Deputados, estava fora do Brasil e, evidentemente, se não está a comandar na prática, não pode ser punido por um ato que não praticou. Afastaram-no, prenderam-no e, a meu juízo, é um exagero, bem como a suspensão do Governador do Distrito Federal. Não se pode punir antes de se chegar a uma conclusão, à prova de comparticipação ou de omissão declarada. Ele foi eleito pelo povo", disse.

Assinalando que "não se deve punir e depois investigar, a não ser em casos muito pontuais, de extrema gravidade", Alcides Martins concluiu que neste cenário de "ânimos extremamente acirrados que não ajudam à busca da verdade real", e o regresso por várias vezes anunciado de Jair Bolsonaro ao Brasil pode não estar para breve.