Economia
12 Janeiro de 2023 | 09h50

Exportação de madeira rende 4,2 milhões de dólares

A exportação de 7.656 metros cúbicos de madeira, em 2022, na província do Cuando Cubango, resultou numa arrecadação de 4,29 milhões de dólares (2,16 mil milhões de kwanzas).



Os madeireiros da província exportaram madeiras do do tipo girassonde, muvala e mucusse, tendo como destinos Namíbia, África do Sul, China e Vietname.

De acordo com o chefe de Departamento do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) no Cuando Cubango, Domingos Afonso Ndedica, a madeira exportada partiu da Delegação Aduaneira do Catuitui, fronteira com a República da Namíbia.

São, no total, seis empresas nacionais que exploram este recurso florestal na província.

Domingos Afonso Ndedica disse que comparado com o ano de 2021, em 2022 houve um aumento considerável de cerca de 40 por cento no que toca à exportação de madeira, tendo em vista que os postos fronteiriços ficaram praticamente encerrados durante dois anos devido à situação da Covid-19 e que havia muita burocracia para se exportar um determinado produto.

Na sua visão, se o ritmo continuar assim como foi em 2022, este ano haverá maior exportação de madeira e consequentemente o aumento de receitas para os cofres do Estado.

Apontou que a reabilitação da estrada Caiundo/Catuitui, num percurso de 365 quilómetros, será uma mais-valia para actividade de exportação de madeira, tendo em vista que o actual estado de degradação das vias de acesso dificulta grandemente a circulação de camiões carregados com mercadorias.

"Esta é uma via que depois de reabilitada irá aumentar o negócio da fronteira da Catuitui e também catapultar as condições de vida socioeconómica na província do Cuando Cubango”, disse, acrescentando que muitas empresas angolanas que fazem comércio na Namíbia, sobretudo de Luanda, Huambo, Bié, Bengo, Cuanza-Sul e Norte, Malanje e Uíge irão instalar-se no Cuando Cubango, pelo facto do troço Catuitui ser muito mais curto em relação com o da Santa Clara.

O engenheiro florestal informou, também, que em 2022 houve uma produção de 9.833 metros cúbicos de madeira que transitaram do Cuando Cubango para as províncias portuárias de Luanda, Bengo e Benguela.

Disse que o IDF controlou ainda cinco autorizações e igual número de credenciais que permitiram a transportação de 2.993 metros cúbicos de madeira que foram leiloados em Dezembro de 2021 no valor de cerca de 175 milhões de kwanzas e que a maioria foi exportada para a China e Vietname.

Salientou que a sua instituição com estes serviços arrecadou para os cofres do Estado 39 milhões de kwanzas, com realce para a emissão de certificados fitossanitários e de origem, sendo documentos fundamentais que permitem a circulação e exportação legal de madeira do Cuando Cubango para outras regiões.

Domingos Ndedica disse que foram emitidos 45 certificados fitossanitários e o mesmo número de certificados de origem, para a exportação dos 7.656 metros cúbicos de madeira da espécie Girassonde e Mucusse para os países da Namíbia, África do Sul e China. 

Acrescentou que ao retirar a madeira do Cuando Cubango para as províncias do Bengo, Benguela e Luanda, o Departamento Provincial do IDF emitiu 170 guias de trânsito e igual número de certificados de origem.

Domingos Afonso Ndedica considerou positivo as actividades desenvolvidas durante o ano de 2022, apesar de que muitas empresas que se candidataram na campanha florestal não se fizeram presentes para o pagamento da licença de exploração.

Sublinhou que das 66 empresas inscritas, apenas 15 foram capazes de pagar as licenças de exploração para um volume de 12.250 metros cúbicos de madeira da espécie Girassonde, Muvala e Mucusse.

Domingos Afonso Ndedica enfatizou que muitas empresas na província estão a arrecadar somas avultadas com a exploração e exportação de madeira em vários países do mundo. Referindo que seria gratificante se estas empresas também cumprissem com qualquer objecto social em prol da população das localidades onde exploram a madeira.

"Infelizmente os madeireiros nem querem saber disto e muito menos ajudar o IDF no projecto de repovoamento das áreas onde têm estado a cortar a madeira, no sentido de permitir o crescimento de novas árvores”, lamentou.


Potencial desafia aposta  em indústrias florestais

Defendeu ainda a necessidade de se construir indústrias florestais verdadeiras na província, tendo em conta o grande potencial que oferece e que vai permitir empregar milhares de jovens.

Explicou que uma indústria florestal pode produzir diferentes tipos de produtos, como madeiras cerradas, briquetes, transformação secundária e terciária com a produção de mobílias, portas, janelas, paletes, entre outros.     

Sublinhou que se um dia o país enveredar na produção local a madeira deixará de ser exportada de forma maciça, mas sim deve ser transformada em produtos acabados e que vai permitir ao país empregar mais pessoas e arrecadar mais receitas.

"O importante é implementar uma cadeia de valores que facilite o surgimento de várias empresas, nomeadamente as que teriam a função só de cortar, transportar e transformar a madeira, assim como comercializar os produtos acabados. Daí estaríamos ajudando a nossa população que vai participar Deste processo produtivo”, disse.

Salientou que neste âmbito a ideia ajudaria também no futuro a fomentar a plantação florestal de espécies exóticas e de crescimento rápido, de modo a minimizar a pressão sobretudo o que se verifica nas florestas nativas que têm plantas que levam muitos anos até à fase de exploração.

Apontou que a produção de carvão é uma actividade que contribui muito na desflorestação, para além da agricultura itinerária. Incentivar as comunidades com a implementação de projecto-piloto numa primeira fase de plantação de espécies rápidas, como as acácias, para o combate à desflorestação.

Realçou que existem três problemas candentes na província que têm estado a provocar a desflorestação, designadamente a produção de carvão, prática da agricultura itinerária e as queimadas anárquicas que criam a degradação florestal. 

"O IDF não tem só a ver com a exploração de madeira, mas uma grande responsabilidade nestas componentes todas e que é necessário se prestar uma maior atenção de todas as actividades que contribuem para a desflorestação, tendo em vista as alterações climáticas”, defendeu.


Campanha florestal 2023

O chefe de departamento do Instituto de Desenvolvimento Florestal no Cuando Cubango informou que está aberto desde o dia 02 até 31 deste mês a entrega de candidatura das empresas que pretendem participar na campanha florestal 2023, cujo arranque está previsto para o dia 1 de Maio.

Informou que as empresas que pagaram as licenças no ano passado e não conseguiram explorar por causa do atraso, as mesmas serão validadas para esta campanha florestal 2023, basta regularizarem a situação junto do IDF.

Fez saber que nos últimos tempos muitas empresas estão a passar por um défice de orçamento devido à redução de clientes para a compra de madeira da espécie mucusse, girassonde e muvala no país.

Referiu que este pode ser o caso que fez com que muitas empresas que se candidataram na campanha florestal de 2022 não apareceram para o pagamento das licenças de exploração, por causa da falta de clientes para comercializar a madeira.

Sublinhou que nos próximos dias o IDF vai apurar quais são os principais motivos que contribuíram negativamente para que as empresas ficassem sem pagar e levantar as licenças.

"A exploração de madeira sendo uma actividade económica deve haver uma harmonização entre as empresas e o IDF, para que a mesma possa ter um benefício recíproco, bem como contribuir para o desenvolvimento socioeconómico da província e do país em geral”, disse.


Previsões de receitas acima de USD 72 milhões

O sector florestal em Angola representa um potencial importante para a economia do país.

A captação de investimento, a promoção do emprego fazem parte do novo paradigma de um dos sectores eleitos para a diversificação da economia nacional.  Em Angola, existiam, no início de 2017, 31 indústrias de transformação de madeira, sendo oito no Uíge e Cabinda, sete no Bengo, cinco no Huambo e três no Cuanza Norte. A capacidade instalada de produção ronda os 1.210 metros cúbicos por dia, sendo a província do Uíge a maior produtora com 370 metros cúbicos por dia.

Mais de 15 milhões de dólares com a exploração de madeira no ano de 2021, segundo dados avançados pelo ministro da Agricultura, António Francisco de Assis, à saída de uma das sessões da Comissão Económica do Conselho de Ministros.

Angola previu arrecadar, em 2022, pouco mais de 72 milhões de dólares, com a exportação, este ano, de cerca de 120 mil metros cúbicos de madeira serrada.

Segundo indicam dados do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF), um metro cúbico de madeira é comercializado, em média, entre 500 e 600 dólares no mercado internacional, enquanto que exploradores ilegais no País vendem a mesma quantidade até 35 mil kwanzas.

Por outro lado, o IDF, órgão afecto ao Ministério da Agricultura e Florestas pretende, neste exercício económico, implementar cinco concessões de exploração florestal e concluir o programa de construção dos entrepostos de produtos florestais.

Consta também do programa, colocar em funcionamento o processo de digitalização do sistema de emissão das licenças para a exploração florestal e do pré-licenciamento para a exportação de produtos, assim como promover e controlar o licenciamento da exploração florestal de 175 mil metros cúbicos de madeira em toro, e outros 100 mil para a floresta plantada.


Défice de fiscais aumenta dificuldades operacionais

O défice de fiscais continua a ser uma das principais dificuldades que o Instituto de Desenvolvimento Florestal enfrenta no Cuando Cubango, para uma melhor cobertura da fiscalização da exploração dos recursos florestais nos nove municípios que compõem a província.

Actualmente, conta com apenas 23 funcionários, dos quais 10 fiscais efectivos que na sua maioria já estão com idade avançada e têm os dias contados para serem reformados.

De acordo com a extensão territorial da província de cerca de 200 mil quilómetros quadrados, Domingos Afonso Ndedica disse que os 10 fiscais são irrisórios para contrapor os malfeitores que têm estado a provocar a desflorestação ou corte ilegal de madeira da espécie mussivi que a sua exploração continua até ao momento proibida. 

"Se tivermos um número suficiente de fiscais pretendemos implementar também actividade regular de fiscalização nos estaleiros e nas áreas de corte de madeira, assim como a criação de postos fixos para melhor controlo da madeira e outros recursos florestais que circulam na província”, assegurou.

Referiu que, por escassez de fiscais, o IDF tem estado a contar com a estreita colaboração dos órgãos defesa e segurança, sobretudo no que tem a ver com a fiscalização do corte ilegal ou de abandono de madeira nas matas.

Domingos Afonso Ndedica disse que também  se aguarda com muita expectativa o reinício e a conclusão das obras do entreposto de Menongue, paralisadas há mais de três anos, que vai contribuir igualmente para melhor gestão e controlo dos recursos florestais que saem da província.

Considerou que é necessário a realização urgentemente de inventários localizados dos recursos florestais na província, no sentido de se apurar na realidade o quê que existe, onde está e em que estado, para melhor gestão e que a actividade não seja feita em suposições na hora da atribuição das licenças de exploração.


Construção de viveiro florestal pode arrancar ainda este ano

O chefe de departamento do IDF, no Cuando Cubango, anunciou que a instituição que dirige pretende, a partir deste ano, construir um viveiro florestal, junto à barragem de Cambumbe, arredores da cidade de Menongue, para produzir anualmente 150 mudas de plantas diversas.

Disse que já existe um espaço para o efeito e que faltam apenas os recursos financeiros para a implementação deste projecto que visa contribuir no processo de povoamento florestal em todos os municípios da província.

Segundo Domingos Afonso Ndedica, caso se efective o referido viveiro florestal estará vocacionado para a produção de 150 mil mudas de plantas exóticas, como de eucaliptos, pinheiros e cedros, assim como abacateiros, mamoeiros, mangueiras e cajueiros.

"Aguardamos que a qualquer momento a direcção geral do IDF ou o governo da província disponibilizem os recursos financeiros para a implementação deste projecto, sobretudo no quadro do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) para a construção do viveiro florestal”, disse.

Disse que actualmente o IDF conta com um viveiro florestal na comuna do Missombo, dista a 16 quilómetros da cidade de Menongue, que tem a capacidade de produzir anualmente 20 mil mudas de plantas e que este ano se prevê aumentar para 30 mil mudas.

Recordou que no ano passado o viveiro do Missombo produziu 5.395 mudas de plantas diversas, com destaque para abacateiros e mangueiras que foram distribuídas nos municípios de Dirico, Rivungo, Cuchi e Cuito Cuanavale.

O engenheiro florestal realçou que esta foi uma iniciativa do ex-governador do Cuando Cubango Júlio Bessa, que durante o seu consulado em 2020 a 2021, pediu ao IDF para criar plantas fruteiras para que a produzisse diversas frutas em grande escala.

Fonte: JA