Em entrevista ao Jornal de Angola, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, que hoje se assinala, a neurologista Helena Cordeiro disse que os Serviços de Neurologia quase que não registam casos da doença. Acrescentou que, durante um ano, pode ser diagnosticado apenas um caso.
Helena Cordeiro confirma a existência de casos de Alzheimer no país e dá a conhecer que alguns pacientes recorrem a clínicas privadas e outros, por falta de informação, ao invés de se dirigirem aos Serviços de Neurologia, vão parar ao Hospital Psiquiátrico de Luanda. "Uma das particularidades do Alzheimer é causar alucinações, depressão e agitação, logo os familiares tendem a levar os pacientes aos Serviços de Psiquiatria, porque acham que estão a ficar malucos, e outros são abandonados nas ruas e depois acabam por morrer", sublinhou a médica neurologista.
Segundo Helena Cordeiro, infelizmente, a psiquiatria não envia estes pacientes aos Serviços de Neurologia para se fazer o diagnóstico diferencial do Alzheimer com outras patologias do fórum neurológico, "logo fica muito difícil prestar-lhes a devida assistência".
A neurologista define o mal de Alzheimer como uma doença neurodegenerativa, progressiva e persistente, que se manifesta com a deterioração cognitiva, da memória, da linguagem e da percepção do mundo exterior.
De acordo com a médica, a doença de Alzheimer é de evolução lenta, mas provoca alterações no comportamento, na personalidade e no humor do paciente, agravando-se ao longo do tempo.
Helena Cordeiro disse que a doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e avançada. Explicou que na fase leve o paciente apresenta falhas de memória, esquecimentos constantes e dificuldades em realizar tarefas um pouco complexas como cuidar das finanças.
Já na fase moderada, prosseguiu a neurologista, o paciente começa a precisar de ajuda para realizar tarefas simples, como vestir, caminha de forma mais lenta, tem dificuldades em pronunciar palavras, esquece-se por vezes do nome da esposa, dos filhos e de realizar actividades do seu dia-a-dia.
"No estágio avançado do Alzheimer, o paciente não consegue realizar nenhuma actividade sozinho, porque as suas capacidades cognitivas regridem totalmente. Precisa de alguém para tomar banho, comer, ir à cama e, em muitos casos, deixa de falar, apenas balbucia, baba-se todo e, inclusive, volta a usar fraldas, porque já não consegue travar a urina e as fezes, tornar-se um bebé adulto", salientou a médica.
Causas e diagnósticos precoces
Helena Cordeiro explicou que a doença de Alzheimer é causada pelo depósito de duas proteínas no cérebro, nomeadamente beta-amiloide, que se acumula em placas nos espaços existentes entre os neurónios, e a proteína tau, que se concentra dentro dos neurónios.
Como consequência desse processo, continuou a neurologista, ocorre uma perda progressiva de neurónios no hipocampo do cérebro, que rege a memória, e no córtex cerebral, que é essencial para as lembranças, linguagem, articulação e reconhecimento de estímulos relacionados aos cinco sentidos da vida e o pensamento abstracto.
"E como estas células neuronais não se rejuvenescem, provoca-se um declínio cognitivo, que faz com que a pessoa com Alzheimer, de forma progressiva, desaprenda o que adquiriu ao longo do tempo, esquece matérias mais recentes, depois as mais distantes, o que leva à total dependência dos seus familiares", frisou a especialista em neurologia.
Segundo a médica neurologista, infelizmente, ainda não existe cura para o mal de Alzheimer. "O diagnóstico precoce e administração regular da medicação ajuda muito a retardar a progressão da patologia neurológica e a controlar os problemas que podem surgir, como insónias e transtornos de humor, que são bastantes comuns nestes pacientes".
De acordo com a medica, a abordagem do paciente com Alzheimer não deve ser só feita pelo médico neurologista é preciso uma actuação multidisciplinar, envolvendo fonoaudiólogos (especialistas da fala), psicólogos, nutricionistas, fi-sioterapeutas, entre outros, para se evitar a progressão da doença.
Genética é um grande factor de risco
Segundo a médica, os factores de risco da doença são a hipertensão, obesidade, diabetes, colesterol alto e herança genética. Acrescentou que o último factor tem um grande peso no aparecimento da patologia. "Pessoas que tenham tido alguém na família com Alzheimer têm grandes probabilidade de vir a ter a doença".
Deu a conhecer que estudos indicam que pessoas que começam a sofrer de Alzheimer antes dos 60 anos é porque na sua linhagem familiar houve alguém com a doença. "Em países mais desenvolvidos já é possível fazer-se testes genéticos, que dão sinal se alguém vai ou não ter a doença de Alzheimer, tendo em conta o seu histórico genético".
A especialista em neurologia sublinhou que, para se chegar a um diagnóstico preciso de Alzheimer, devem ser feitos testes neuropsicológicos e estudos complementares de imagem, como ressonância magnética e Tomografia Computadorizada do Crânio (TAC), que indica se há uma atrofia no cérebro e/ou para excluir outras causas, como acidente vascular cerebral e tumores cerebrais.
Sinais de alerta e prevenção do Alzheimer
Helena Cordeiro disse que problemas de memória são um dos grandes sinais da doença de Alzheimer, a ponto de afectarem as actividades diárias, o trabalho, causar dificuldades para realizar tarefas habituais, comunicar-se, desorientação de tempo e espaço, diminuição da capacidade de juízo e de crítica, colocar coisas no lugar errado, alterações frequentes do humor e do comportamento e mudanças de personalidade.
A médica neurologista aconselha uma vida activa, prática regular de actividades físicas, controlo dos factores de risco, como a hipertensão e diabetes, estudar cada vez mais para estimular o cérebro, trabalhar a capacidade de concentração e dormir o suficiente.
O dia 21 de Setembro foi instituído pela Associação Internacional do Alzheimer (ADI) como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer. A doença do córtex cerebral foi apresentada em 1906, pelo psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer (1864-1915), durante um congresso científico na Alemanha.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 35.6 milhões de pessoas no mundo sofrem da doença de Alzheimer', número que poderá duplicar até 2030. Este ano a efeméride foi assinalada sob o lema "Conheça a demência, conheça a doença de Alzheimer".
Fonte: JA