Saúde
21 Setembro de 2022 | 09h38

Serviços de Neurologia registam poucos casos da doença de Alzheimer

Apesar de a doença de mal de Alzheimer ser considerada uma forma mais comum de demência neurodegenerativa da terceira idade (60 anos em diante), os Serviços de Neurologia do Hospital Josina Machel, referência no país, têm registado poucos casos da doença, que, no mundo, afecta cerca de 35.6 milhões de pessoas.

Em entrevista ao Jornal de Angola, em alusão ao Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer, que hoje se assinala, a neurologista Helena Cordeiro disse que os Serviços de Neurologia quase que não registam casos da doença. Acrescentou que, durante um ano, pode ser diagnosticado apenas um caso. 

Helena Cordeiro confirma a existência de casos de Alzheimer no país e dá a conhecer que alguns pacientes recorrem a clínicas privadas e outros, por falta de informação, ao invés de se dirigirem aos Serviços de Neurologia, vão parar ao Hospital Psiquiátrico de Luanda.  "Uma das particularidades do Alzheimer é causar alucinações, depressão e agitação, logo os familiares tendem a levar os pacientes aos Serviços de Psiquiatria, porque acham que estão a ficar malucos, e outros são abandonados nas ruas e depois acabam por morrer", sublinhou a médica neurologista. 

Segundo Helena Cordeiro, infelizmente, a psiquiatria não envia estes pacientes aos Serviços de Neurologia para se fazer o diagnóstico diferencial do Alzheimer com outras patologias do fórum neurológico, "logo fica muito difícil prestar-lhes a devida assistência".  

 A neurologista define o mal de Alzheimer como uma doença neurodegenerativa, progressiva e persistente, que se manifesta com a deterioração cognitiva, da memória, da linguagem e da percepção do mundo exterior.  

De acordo com a médica, a doença de Alzheimer é de evolução lenta, mas provoca alterações no comportamento, na personalidade e no humor do paciente, agravando-se ao longo do tempo. 

Helena Cordeiro disse que a doença de Alzheimer pode ser dividida em três fases: leve, moderada e avançada. Explicou que na fase leve o paciente apresenta falhas de memória, esquecimentos constantes e dificuldades em realizar tarefas um pouco complexas como cuidar das finanças.

Já  na fase moderada, prosseguiu a neurologista, o paciente começa a precisar de ajuda para realizar tarefas simples, como vestir, caminha de forma mais lenta, tem dificuldades em pronunciar palavras, esquece-se por vezes do nome da esposa, dos filhos e de realizar actividades do seu dia-a-dia.

"No estágio avançado do Alzheimer, o paciente não consegue realizar nenhuma actividade sozinho, porque as suas capacidades cognitivas regridem totalmente. Precisa de alguém para tomar banho, comer, ir à cama e, em muitos casos, deixa de falar, apenas balbucia, baba-se todo e, inclusive, volta a usar fraldas, porque já não consegue travar a urina e as fezes, tornar-se um bebé adulto", salientou a médica.

Causas e diagnósticos precoces

Helena Cordeiro explicou que a doença de Alzheimer é causada pelo depósito de duas proteínas no cérebro, nomeadamente beta-amiloide, que se acumula em placas nos espaços existentes entre os neurónios, e a proteína tau, que se concentra dentro dos neurónios.

Como consequência desse processo, continuou a neurologista, ocorre uma perda progressiva de neurónios no hipocampo do cérebro, que rege a memória, e no córtex cerebral, que é essencial para as lembranças, linguagem, articulação e reconhecimento de estímulos relacionados aos cinco sentidos da vida e o pensamento abstracto.

"E como estas células neuronais não se rejuvenescem, provoca-se um declínio cognitivo, que faz com que a pessoa com Alzheimer, de forma progressiva, desaprenda o que adquiriu ao longo do tempo, esquece matérias mais recentes, depois as mais distantes, o que leva à total dependência dos seus familiares", frisou a especialista em neurologia. 

Segundo a médica neurologista, infelizmente, ainda não existe cura para o mal de Alzheimer. "O diagnóstico precoce e administração regular da medicação ajuda muito a retardar a progressão da patologia neurológica e a controlar os problemas que podem surgir, como insónias e transtornos de humor, que são bastantes comuns nestes pacientes".

De acordo com a medica, a abordagem do paciente com Alzheimer não deve ser só feita pelo médico neurologista é preciso uma actuação multidisciplinar, envolvendo  fonoaudiólogos (especialistas da fala), psicólogos, nutricionistas, fi-sioterapeutas, entre outros, para se evitar a progressão da doença.

Genética é um grande factor de risco

Segundo a médica, os factores de risco da doença são a hipertensão, obesidade, diabetes, colesterol alto e herança genética. Acrescentou que o último factor tem um grande peso no aparecimento da patologia. "Pessoas que tenham tido alguém na família com Alzheimer têm grandes probabilidade de vir a ter a doença".

Deu a conhecer que estudos indicam que pessoas que começam a sofrer de Alzheimer antes dos 60 anos é porque na sua linhagem familiar houve alguém com a doença. "Em países mais desenvolvidos já é possível fazer-se testes genéticos, que dão sinal se alguém vai ou não ter a doença de Alzheimer, tendo em conta o seu histórico genético".

A especialista em neurologia sublinhou que, para se chegar a um diagnóstico preciso de Alzheimer, devem ser feitos testes neuropsicológicos e estudos complementares de imagem, como ressonância magnética e Tomografia Computadorizada do Crânio (TAC), que indica se há uma atrofia no cérebro e/ou para excluir outras causas, como acidente vascular cerebral e tumores cerebrais.

Sinais de alerta e prevenção do Alzheimer

Helena Cordeiro disse que problemas de memória são um dos grandes sinais da doença de Alzheimer, a ponto de afectarem as actividades diárias, o trabalho, causar dificuldades para realizar tarefas habituais,  comunicar-se, desorientação de tempo e espaço, diminuição da capacidade de juízo e de crítica, colocar coisas no lugar errado, alterações frequentes do humor e do comportamento e mudanças de personalidade.

A médica neurologista aconselha uma vida activa, prática regular de actividades físicas, controlo dos factores de risco, como a hipertensão e diabetes, estudar cada vez mais para estimular o cérebro, trabalhar a capacidade de concentração e dormir o suficiente.  

O dia 21 de Setembro foi instituído pela Associação Internacional do Alzheimer (ADI) como o Dia Mundial da Doença de Alzheimer. A doença do córtex cerebral foi apresentada em 1906, pelo psiquiatra alemão Aloysius Alzheimer (1864-1915), durante um congresso científico na Alemanha. 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de  35.6 milhões de pessoas no mundo sofrem da doença de Alzheimer', número que poderá duplicar até 2030. Este ano a efeméride foi assinalada sob o lema "Conheça a demência, conheça a doença de Alzheimer".

Fonte: JA