COVID-19
21 Fevereiro de 2022 | 10h52

Número de pessoas sem a segunda dose em Angola preocupa a OMS

A representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola manifestou este domingo, em Luanda, preocupação com a quantidade de pessoas que apanharam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 e ainda não regressou para tomar a segunda.

Djamila Cabral, que comentava, em declarações à agência Lusa, a redução significativa de casos de Covid-19 no país, depois do registo, entre Dezembro de 2021 e Janeiro deste ano, de um aumento drástico de casos, disse que é preciso as autoridades continuarem a incentivar as pessoas a fazer a sua vacinação e, no caso de Angola, "principalmente, a segunda dose”.

"É muita gente que já tomou a primeira dose, mas não vai tomar a segunda, temos que continuar a sensibilizar”, disse.

Segundo Djamila Cabral, é preciso também que as autoridades continuem a aumentar o acesso aos pontos de vacinação, criar novas estratégias, novas maneiras para atingir as pessoas que ainda não tomaram a segunda dose.

A representante da OMS frisou que "a desinformação e até a má-fé que é veiculada” estão na base dessa resistência à vacinação. Nesse sentido, é necessário um trabalho maior de informação e sensibilização.

"As notícias que fazem medo têm uma tendência a propagar-se e as pessoas acreditam. No fundo, tem todo um trabalho que estamos a fazer, estamos a apoiar também o Ministério da Saúde a fazer, que é encontrar essas mensagens nas redes sociais e tentar contrapor, argumentar para tentar desacreditar essas mensagens. Mas, na verdade, elas ainda têm muita influência e penso que, pelo menos, uma parte da resistência à vacinação vem daí e outra parte do facto de as pessoas não estarem a ver muitos casos”, disse.

Para Djamila Cabral, esses são factores que favorecem a continuação da transmissão e o aparecimento de novas variantes.

"Não há nada que possa fazer prever que a nova variante vai ser mais forte ou mais fraca do que aquelas que já tivemos. Podemos sempre correr o risco de ter uma variante que seja muito mais perigosa do que as que já tivemos”, sublinhou.

Face à redução significativa de casos da Covid-19, as autoridades angolanas aliviaram as medidas de prevenção e combate à doença no último decreto sobre o estado de calamidade, incluindo a reabertura das discotecas, mas mantiveram a interdição de acesso às praias e piscinas públicas, decisão que tem sido questionada pela sociedade.

Sobre o assunto, a representante da OMS referiu que os países analisam a sua situação e avaliam aquilo que pode contribuir ou não para a pandemia e vão tomando as medidas.

Djamila Cabral realçou que esta medida poderá ter a ver com o facto de autoridades pretenderem um alívio gradual das restrições, porque "as pessoas, como vêem poucos casos, têm tendência a não cumprir”.

"Se se relaxar também tudo de uma vez pode ser que não seja muito bom. Eu acredito que a comissão do Ministério da Saúde, o Governo, tenha avaliado e balanceado, porque é tudo uma questão de balanço e de equilíbrios. Às vezes dá certo, às vezes dá menos certo. Foram abertas as praias uma vez e de repente o número de casos voou de novo”, disse.

"Também aprender com a experiência faz parte de todo esse processo. Acredito que haja razões para se ir com cuidado e é a recomendação que a OMS faz. Não há uma fórmula que seja boa para todos os países, cada país tem os seus dados, tem a sua realidade, os seus problemas sociais, económicos e sanitários, então cada país tenta avaliar, vai fazendo, desfazendo as medidas, volta para trás, avança”, acrescentou.

Nesse sentido, prosseguiu a representante da OMS, "Angola tem sido realmente muito exemplar”.

"Porque temos tido as medidas certas, que foram sendo tomadas e que quando necessário voltou-se para trás. Penso que, se todos colaborarem, podemos chegar a um ponto em que haverá mais afrouxamento das medidas, mas o facto de ir devagar, para nós, é realmente bom sinal, é o caminho que devemos ir. Ir devagar para ir vendo como é que nos adaptamos ao retorno à vida quase normal”, sublinhou.

 

MEDIDAS ACERTADAS

Redução significativa de casos "está dentro do que era esperado”

A representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Angola considerou que a redução significativa de casos de Covid-19 no país "está dentro do que era esperado”, na medida em que foram tomadas as medidas para isso.

Djamila Cabral exprimiu satisfação pelo facto de se estar a viver um momento de regressão significativa do número de casos, de óbitos e de internamentos por Covid-19.

No passado domingo, Angola reportou zero casos novos e nenhuma morte devido à doença, num total de 2.312 testes PCR, o que não acontecia desde os primeiros tempos da pandemia no país, que diagnosticou as primeiras infeções em 21 de Março de 2020.

Para a representante da OMS, as razões por detrás dessa baixa, pelo que se sabe e se conhece hoje em relação à Covid-19, devem-se às medidas tomadas e ao aumento da vacinação.

"As medidas foram tomadas quando tivemos o aumento de casos de forma espectacular, entre fins de Dezembro [2021] e Janeiro, que foi provocado pela variante Ómicron, e que se verificou na grande maioria dos países esse tipo de aumento (…). Em seguida, quando se tomaram as medidas que se deviam tomar, o número de casos também baixou, como aconteceu em vários países”, frisou.

"E não nos podemos esquecer também que as acções para garantir uma cobertura vacinal contra a Covid-19 continuam com o mesmo vigor e que temos também uma população que está mais bem imunizada, mesmo que ainda se tenha de fazer muito mais para garantir a imunização do maior número de pessoas”, disse Djamila Cabral.

Instada a comentar a contradição entre o desrespeito visível das medidas de protecção individual, como o uso de máscaras, e a redução de casos, a responsável concordou que há "sempre essa impressão de que o cumprimento das medidas não é respeitado por todos”.

"Temos essa sensação, mas penso também que hoje em dia temos uma população que está muito mais sensibilizada com a questão da lavagem das mãos, com a questão do distanciamento. Não é todo o mundo, mas há uma consciência generalizada de que é necessário tomar algum cuidado”, sublinhou.

"Essa consciência fica um pouquinho mais alerta quando estamos a ver muitos casos, porque, na verdade, hoje em dia, em Angola, mas se calhar no mundo inteiro, já não há ninguém que possa dizer que não teve um caso de Covid perto, quer seja de um vizinho, quer seja de um familiar ou na sua própria casa”, reforçou.

Djamila Cabral realçou que a Covid-19 ainda é uma doença nova e que não há conhecimento de tudo para explicar a pandemia, salientando que o comportamento da variante que dominou a última vaga, a Ómicron, pode explicar a situação de ter havido um número de casos muito grande e rapidamente também uma redução, "pelo próprio desenvolvimento de alguma imunidade, porque houve muita gente infetada”. 

"O que nós chamamos atenção é que isso não pode, de maneira nenhuma, fazer com que baixemos os braços. Essa é a mensagem mais importante. O número de casos está a diminuir de forma significativa, é um sinal muito bom, todos nós estamos muito felizes, mas temos de lembrar que ainda não é tempo de relaxar totalmente as medidas”, sublinhou.

A oficial da organização das Nações Unidas incentivou a vacinação para que a protecção que se possa desenvolver seja "mais de longo prazo”.

"Porque ainda estamos a aprender com esta doença nova, tem dois anos e pouco, ainda estamos a aprender muita coisa, mas a mensagem mais forte é de dizer que não podemos baixar os braços e principalmente a vacinação”, disse.

De acordo com a representante da OMS, é preciso continuar a implementar as medidas de protecção individual, com a utilização das máscaras, lavagem das mãos, o distanciamento, evitar lugares muito fechados, fazer a etiqueta da tosse, do espirro.

"São boas práticas que devemos manter o máximo possível, porque essa diminuição não quer dizer que a pandemia já acabou”, salientou.

Fonte: JA