O número de casos de Covid-19 em Angola tem vindo a aumentar de forma galopante nas últimas semanas.
Em reacção, o Executivo angolano por intermédio da sua Comissão Interministerial de Combate a Pandemia decretou um reforço das medidas que passam essencialmente por uma promoção e aceleração da vacinação entre nós.
Não tendo meios para manter a economia novamente semi-paralisada dado o custo social que tal decisão acarretaria, o Executivo optou, e quanto nós muito bem, por reforçar o processo de vacinação no seio da população, sobretudo àqueles segmentos elegíveis, ou seja, as pessoas com mais de 18 anos de idade.
Desse modo, a partir do próximo dia 15 de Outubro, grande parte das instituições públicas e aquelas que prestam serviço e atendimento ao público são obrigadas a condicionar o acesso à entrega do certificado internacional ou do cartão físico de vacinação. Os próprios funcionários públicos servirão de exemplo.
O que se espera agora é que o nosso exército de negacionistas faça marcha-atrás e se ponha na primeira fila dos postos de vacinação espalhados pelo País. O Ministério da Saúde assegura que tem condições para vacinar 100 mil pessoas por dia, o que quer dizer que é possível, até ao final do ano conseguirmos atingir as metas definidas no Plano de Vacinação Nacional contra a Covid-19, que segundo a Ministra Sílvia Lutukuta está estimado em cerca de sete milhões de pessoas, pouco mais de 50 por cento da população elegível.
Se por um lado, é importante encontrar medidas sancionatórias contra as pessoas e entidades (mormente religiosas) que propagam de forma irresponsável a não vacinação, a verdade é que é absolutamente vital que os meios de comunicação social façam ainda mais do que têm feito em matéria de mobilização. E uma vez que isso é serviço público, não há distinção entre públicos e privados. Seja pela via da publicidade institucional, seja pela via editorial, desmontando assim os contra-argumentos da vacinação e estimulando a adesão voluntária. Acto contínuo, será importante que em termos logísticos consigamos diminuir as filas que se registam nos postos, uma vez que este é um factor que muitas vezes desestimula as pessoas de se deslocarem aos postos. Estamos a falar de filas que resultam, essencialmente, da desorganização e não da escassez uma vez que está assegurado, em termos logísticos, a disponibilidade das mesmas.
Outro factor verdadeiramente preocupante no nosso seio e o que se está a passar na vacinação é só mais um sinal, é o facto de muitas vezes as pessoas não retornarem às instituições. É assim mais comummente com a emissão da Carta de Condução, do passaporte nacional e também com os bilhetes de identidade onde, vezes sem conta, ouvimos relatos dos responsáveis dessas instituições reclamarem do facto dos utentes não recolherem os seus documentos. Na vacinação da Covid-19, e provavelmente na vacinação dos nossos menores, ocorre o mesmo. Segundo o relato da ministra Lutukuta, dos cerca de três milhões de angolanos vacinados, pouco mais de um milhão tem as duas doses, excluindo-se aqui a vacina da Johnson & Johnson que é de dose única. Notamos então que cerca de dois milhões de pessoas têm por apanhar a segunda dose, o que claramente complica as contas das autoridades sanitárias e, sobretudo, faz-nos ter uma falsa impressão de imunidade de grupo. Daí também, em parte, o aumento do número de casos que temos vindo a registar.
Por outro lado, sendo Angola um país que participa de várias formas nos diversos areópagos e formatos da globalização, do comércio internacional ao turismo, das missões oficiais às ligações com a diáspora espalhada pelo mundo, é vital que estejamos em condições de continuar a participar no novo mundo que se cria. O mundo ocidental e partes da Ásia estão a acelerar a retoma ao novo normal, fruto da vacinação. Em muitos países até já criaram uma nova classificação da pandemia.
Chamam-na agora a "pandemia dos não vacinados” uma vez que a grande maioria dos casos são essencialmente dos famigerados negacionistas da vacina, o que gera ainda preocupação na comunidade médico-científica e lideranças políticas dado o custo que os mesmos representam para os cofres dos Estados.
De resto, em Angola podemos, igualmente, acossar-nos disso na medida em que há um elevado investimento do Estado com a compra de vacinas e equipamentos associados. Vacinar passa a ser, portanto, uma questão de cidadania, pois estando vacinados poderemos participar na retoma.
Fonte: JA