Contrariamente ao que se previa, quando as autoridades do país optaram pelo alívio das medidas restritivas, tornou-se comum, nos últimos dias, assistir ao diagnóstico de novos doentes nas unidades hospitalares, muitas deles já à beira da saturação.
Pelos números divulgados recentemente, quer de infecções, quer de mortes, fica claro que o país avançou rápido para uma terceira vaga, com novas variantes susceptíveis de colapsar os hospitais.
Para que não restam dúvidas, só no último mês foram diagnosticados 14.459 casos novos, uma média de dois mil casos por semana, com cerca de 300 por dia.
Em termos de mortes, o país registou neste mesmo período um total de 558, a maior parte delas na província de Luanda, que continua a ser o epicentro da pandemia.
A semana mais "negra", em termos de infecções e mortes foi a de 22 a 29 de Setembro com 100 óbitos.
Dados divulgados apontam uma taxa de crescimento de cerca de 13 por cento, no mês de Setembro, particularmente nas províncias de Luanda, Huambo, Benguela e Huíla.
Pelos dados disponíveis, fica fácil perceber que os angolanos, regra geral, não souberam conviver com as medidas de alívio económico implementadas pelo Governo, e deixaram de fazer, lamentavelmente, o combate serrado e permanente contra esse vírus invisível.
Os constantes atropelos às medidas de prevenção e combate contidas nos Decretos Presidenciais sobre a Situação de Calamidade Pública são, hoje por hoje, um problema que urge combater, quer pelas autoridades, quer pelos cidadãos em geral.
Conquanto, apesar dos sinais de alerta e de agravamento da pandemia em Angola, muitos ainda relutam em cumprir as normas do Decreto Presidência, pondo em risco as próprias vidas, das suas famílias e de milhares de cidadãos inocentes.
Por incrível que possa parecer, entre os violadores das normas de prevenção e combate estão os partidos políticos e as coligações de partidos, que "remam" em sentido contrário ao do Executivo.
Se, de um lado, as autoridades tudo fazem para conter a disseminação nas comunidades e o comum cidadão procura cumprir as recomendações, numa altura em que os dados indicam a circulação comunitária em todo país e com a presença de variantes mais letais (delta e a inglesa), no lado de quem tem a obrigação de ajudar na prevenção, como autoridade moral, a mensagem transmitida é contrária.
Estes (partidos políticos) demonstram, com tal atitude, que o principal objectivo é a conquista de votos, ignorando sobremaneira os riscos e danos que os actos de massa podem vir a causar.
No vale tudo para a conquista do voto, nesta fase de pré-campanha eleitoral, nem as "chorudas" multas (600 mil a 800 mil Kwanzas) aplicadas para os promotores de ajuntamentos públicos com mais de 15 pessoas estão a inibir a praça política de se fazer às ruas sem o respeito pelas regras.
Na luta por voto, a pandemia aproveita e faz morada, com os números a aumentarem diariamente e de forma assustadora.
Por mais que não se queira admitir, há que assumir que o quadro epidemiológico de Angola alterou substancialmente, para pior.
Basta um olhar rápido pelos hospitais do país, sobretudo os de Luanda, para se perceber que os casos comunitários são cada vez maiores e mais preocupantes.
Apesar dos sinais evidentes, há ainda muita gente a ignorar a perigosidade da pandemia, muitas delas com sintomas claros, andando pelas ruas sem máscaras.
Diante desse cenário, há que reforçar as campanhas de sensibilização e as medidas epidemiológicas, tendo em atenção os milhares de doentes assintomaticos que podem estar espalhados pelas ruas.
O momento não é para brincadeiras nem acções descordenadas, pelo que o Estado deve fazer a sua parte, adoptando as melhores estratégias de combate, mas tudo será em vão se a população não colaborar.
Por isso, é chegada a hora de se abordar a questão com mais seriedade, porque a Covid-19 não escolhe vítimas e pode ser um problema sério para a economia do país e para os cidadãos, se não forem tomadas medidas ajustadas daqui para frente.
Fonte: ANGOP