Desporto
04 Abril de 2021 | 10h55

A grande conquista no sector desportivo

Não se pode dizer, nem em meio de qualquer equívoco, que o desporto angolano não existia antes do 4 de Abril de 2002, data em que foram celebrados os Acordos que viriam a catapultar o país para um clima são e propenso à definição de políticas de desenvolvimento mais concretas e realísticas.

Porém, vamos convergir em reconhecer que, a partir dessa altura, as coisas ficaram mais facilitadas, sendo que ficaram quebradas as limitações à prática de um desporto mais sadio e utilitário. Vislumbrava-se no horizonte o amanhecer de um novo dia, em que o estertor da guerra passaria testemunho ao sorriso da paz.

Competitivamente falando, o país deu sequência à saga vitoriosa nas modalidades em que sempre se destacou. Refira-se ao basquetebol, andebol, xadrez e em outros desportos de caris individual, que sempre souberam guindar o nome de Angola para os píncaros da fama.  
É evidente que no basquetebol, a nossa "galinha de ovos de ouro”, paramos em 2013, sendo que no cômputo dos 11 títulos no palmarés, bom número destes foi alcançado no tempo da "outra senhora”. Seja como for, isto não tem relação com o tempo de guerra ou da paz, resulta, simplesmente, do cumprimento de um ciclo que, ruim ou prazenteiro,  podia ocorrer em qualquer circunstância.

No plano interno, a competição ganhou outro impulso. Pese embora do ponto de vista participativo exista um incómodo centralismo luandense, é importante que tomemos nota positiva do surgimento do Recreativo do Libolo, que no pouco tempo da sua vigência, puxou dos galões e fez finca-pé aos papões cá  do burgo.
Na verdade, sendo a "bola ao cesto” a modalidade de maior expressão pelo continente, quando se fala de Angola, seria bom que tivesse maior massificação  interna, e, talvez, um campeonato mais explosivo e inclusivo. O quadro actual deixa claro, sobretudo com o fim da turma do Cuanza-Sul, que a modalidade está, do ponto de vista evolutivo, resumida à capital.

No andebol, as nossas Pérolas conservam a aura vencedora. Jamais deixaram cair os créditos em mãos alheias, representando com elevada dignidade o nome de Angola em todos os palcos em que se façam representar, falemos da selecção ou dos clubes. No que se refere ao crescimento interno, a modalidade, convenhamos, tem linha orientadora.
Entretanto, não pode haver dúvidas que foi mais no capítulo de infra-estruturas que o país registou maior crescimento em 19 anos de paz. Quer se fale de estádios de futebol, quer se fale de quadras polidesportivas, deu-se um passo de gigante no período que nos leva de Abril de 2002 aos dias actuais.

A organização do Afrobasket’2007 levou à construção de quatro pavilhões multiusos nas províncias de Cabinda, Benguela e Huíla, o que acabou por ser um verdadeiro balão de oxigénio. Pois, se Luanda se gabava da imponência da Cidadela Desportiva, as outras províncias não dispunham de quadras de dimensões internacionalmente recomendadas.
No clima anterior, não foi dado este passo, porque as competições de foro internacional estavam circunscritas a Luanda. A paz abriu as portas para que se quebrasse o conceito que, durante muito tempo, infundia a percepção de que Angola era Luanda. O Afrobasket’2007 foi, em termos de História, o que se disputou em mais recintos, em mais cidades.

Mas o maior de todos os pavilhões, e com um toque arquitectónico super-moderno, foi igualmente erguido nos últimos 19 anos. O multiusos do Kilamba recebeu o mundial de hóquei em patins disputado em 2013, e hoje quase tirou lugar ao gimnodesportivo da Cidadela, catalogada, por nossa conta e risco, como a sala das maiores alegrias desportivas que o país já viveu.


Arena do Kilamba VS Cidadela
Quando nos primórdios dos anos 70 víamos a subir aos céus, no antigo bairro Indígena, o pavilhão da Cidadela, era para receber o Campeonato Mundial de hóquei em patins de 1974. A organização dessa edição estava confiada a Portugal, e decorreria na sua província ultramarina de Angola.
As convulsões do 25 de Abril do mesmo ano, viriam a precipitar as coisas. O campeonato  disputou-se em Portugal continental. A Cidadela, concluída, serviu mais, ao longo dos anos, outros desportos, que a modalidade responsável pela sua construção.

Também o hotel construído ao lado (prédio da antiga DNIC) para receber as delegações participantes, serviu dossiers judiciais, até que um dia, com as fundações ocas, veio a desabar. Em 2013 muitos esperavam que a Cidadela também recebesse alguns jogos do campeonato, quanto mais não fosse para lavar a sua honra, a sua glória. Mas esta é outra conversa.

CAN’2010
o maior desafio

Em 2008, seis anos depois do estabelecimento da paz, Angola assumia, em Accra, capital do Ghana, a organização do Campeonato Africano das Nações de 2010, o que foi, prontamente, aceite  pelo Comité Executivo da Confederação Africana de Futebol.
A decisão levantou algum pomo de discórdia. Pois, para algum segmento da sociedade, o país, ainda com as feridas abertas pela guerra por sarar, tinha outras prioridades. Justino Fernandes, à época presidente da Federação Angolana de Futebol, António Mangueira e Rui Costa foram imunes a todas as criticas. Aliás, não tinham como, porque o compromisso já estava assumido.

O CAN’2010 foi responsável pela construção de quatro modernos estádios, nomeadamente o 11 de Novembro (Luanda), O’mbaka (Benguela), Chiazi (Cabinda) e Tundavala (Huíla). Todos estes projectos eram impensáveis no tempo em que víamos o país a tentar escapar da agressão de uma guerra atroz, de consequências incalculáveis.
Aqui neste quesito, também se pode aferir que o país saiu vencedor, apesar de no plano competitivo não ter ido para lá dos quartos-de-final, arrumado pelo Ghana, naquele sprint de Asamoah Gian, que anulou o "nosso” Kaly,  para o golo fatal e de triste memória.

Os estádios do CAN estão aí, para servir o futebol nacional, ainda que em certos casos se constate alguma inércia no seu pleno aproveitamento, situação a ver com a falta de políticas de gestão e exploração melhor concebidas e orientadas.  
Enfim, em 19 anos de paz os ganhos no sector desportivo foram vários e visíveis aos olhos de todos, sendo que só não os enxerga quem, deliberadamente, não queira, porque feito refém de um cepticismo doentio e bacoco...

Fonte: JA