Desporto
09 Março de 2021 | 08h49

Desporto adaptado renova esperança das mulheres portadoras de deficiência

A prática do desporto adaptado na província do Huambo, fruto das políticas de massificação e expansão, está a renovar a esperança das mulheres portadoras de deficiência.

Esta franja da sociedade, estimada em 24 mil e 687, enfrenta inúmeras dificuldades desde a estigmatização, discriminação e exclusão social, com repercussão no acesso ao emprego, formação académica e técnico-profissional, além da falta de meios de compensação.

Em causa está a condição de dependência, com poucas possibilidades para que, de forma autónoma, possam ir atrás das oportunidades e, assim, alcançarem por mérito próprio as suas conquistas de vida pessoal e social.

De acordo com dados da Rede de Organização de Pessoas com Deficiência na região, com uma densidade populacional de dois milhões, 519 mil e 309 habitantes, 55 mil e 712 cidadãos apresentam vários tipos de deficiência, dos quais 24 mil e 687 são mulheres.

Deste grupo, apenas 20 por cento estão empregadas e inseridas em diversos projectos geradores de renda de iniciativas público/privados.

Perante esta realidade, muitas delas, em condições de vulnerabilidade, socorrem-se ao desporto adaptado, como forma de encontrar soluções para vencerem os desafios da emancipação e da integração social.

A prática do desporto adaptado, com realce para o atletismo e o basquetebol em cadeiras de rodas, tem devolvido a esperança desta franja da sociedade, que encontra, nesta actividade, uma oportunidade para demonstrar as suas habilidades físicas e mentais.

Um dos exemplos é Angélica da Costa, inscrita no Comité Paralímpico Angolano que, depois de lhe ter sido amputada  a perna direita, aos dez anos de idade, conseguiu superar as adversidades quotidianas.

Actualmente, com 27 anos, mantém a firmeza de superar o estigma e o preconceito, com a prática do basquetebol em cadeira de rodas desde 2016.

Angélica da Costa diz ter já participado no jogo de lançamento da selecção nacional da modalidade, disputado em 2019, em Luanda, diante da África do Sul.

Maria Helena Jamba, de 28 anos, é outra mulher com deficiência que encontra na prática do basquetebol em cadeiras de rodas a oportunidade para enfrentar a discriminação, o estigma e a exclusão social.

A basquetebolista encara o processo de massificação e expansão do desporto adaptado em Angola, como um desafio na consciencialização da sociedade em aceitar este grupo social e, ao mesmo tempo, melhorar as condições de vida dos deficientes.

Por seu lado, Cecília Nambundo, do atletismo paralímpico na categoria de F 42, reconhece que o desporto adaptado tem proporcionado às pessoas com deficiência um bem-estar físico e emocional, devolvendo-lhes a auto-estima e a confiança no futuro.

Portadora de deficiência no membro inferior direito, conseguiu através da prática da modalidade, vencer as barreiras da discriminação social, inclusive no seio familiar.

Segundo o presidente da Associação local do Desporto Paralímpico, Jaime Chilala, tem aumentado o número de mulheres com deficiência que pretendem praticar a actividade desportiva, devido aos benefícios sociais.  

Deu a conhcer que a Associação controla, actualmente, 50 praticantes, sendo 23 em basquetebol em cadeira de rodas, 18 em atletismo, cinco em atletismo com triciclo de tracção manual e quatro na modalidade de natação, enquanto outras 50 aguardam pelo seu enquadramento.

Acrescentou que, além de permitir a inserção e integração social, a Associação tem estabelecido parceiras com instituições públicas/privadas para a garantia do acesso ao emprego, formação académica e técnico-profissional.

Entretanto, lamentou a falta de material desportivo apropriado para a actividade, assim como recursos financeiros e meios de transportes, factores que têm condicionado os trabalhos de massificação e expansão.

Apoio institucional

Por sua vez, o chefe do departamento da Acção Social na província do Huambo, Albino Lumingo, disse que o Governo continua a prestar uma atenção especial às pessoas portadoras de deficiência, através de politicas de protecção e melhoria da sua condição de vida.

Entre os projectos apontou os programas geradores de rendas e a atribuição de quotas para o acesso ao emprego, formação académica, técnico-profissional e habitação em centralidades.

Sobre o assunto, o sociólogo Adriano Katiavala, realçou o esforço do Governo na protecção das pessoas com deficiência, através de projectos que têm facilitado a sua inserção na sociedade.

Indicou que Angola é um dos poucos países do continente africano que tem um ministério criado para solucionar os problemas que as pessoas com deficiência enfrentam, apesar do elevado índice de rejeição e discriminação, resultante de aspectos culturais.

Defendeu a necessidade de uma maior sensibilização da sociedade, de modo a aceitar, respeitar e promover a igualdade de oportunidades, pois ser deficiente não significa inutilidade.

Fonte: Angop