Saúde
16 Fevereiro de 2021 | 10h23

Mutações do vírus facilitam reinfeções? Comunidade científica investiga

"Há evidências convincentes de que já ter passado por uma infeção com o vírus original não protege contra a reinfecção com a variante B.1.351 [a detetada na África do Sul]", alerta o Dr. Shabir Madhi, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo.

As novas estirpes do coronavírus estão a preocupar a comunidade científica. De facto, segundo o El País, já existem cinco vacinas que parecem ser menos eficazes contra a variante do vírus detetada pela primeira vez na África do Sul. A acrescentar, na passada quarta-feira, foi relatado em França o primeiro caso confirmado de reinfeção grave por esta variante. O que nos leva a pensar: os mais de 100 milhões de pessoas que recuperaram da doença e os mais de 175 milhões que já foram vacinados podem não estar totalmente protegidos contra as novas versões do vírus.


"Há evidências convincentes de que já ter passado por uma infeção com o vírus original não protege contra a reinfecção com a variante B.1.351 [a detetada na África do Sul]", alerta o Dr. Shabir Madhi, da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. Shabir Madhi conduziu um ensaio da vacina pela empresa americana Novavax, que obteve resultados preliminares inesperados - no grupo de controlo não vacinado, as pessoas que nunca tiveram Covid e as que tiveram a doença foram infectadas ou reinfectadas na mesma taxa, chegando a 4% em ambos os casos.

A vacina Novavax é uma das cinco que mostrou evidências de ser menos eficaz contra a variante B.1.351. Foi 89% eficaz num teste no Reino Unido, mas apenas 60% na África do Sul. A injeção da também americana Johnson & Johnson alcançou uma eficácia de 72% nos EUA, mas apenas 57% na África do Sul. E o país africano suspendeu diretamente a administração da vacina de Oxford e AstraZeneca após observar uma eficácia de apenas 22% num ensaio preliminar.

Um pequeno estudo com 20 pessoas, publicado na semana passada na revista Nature, sugere que as vacinas Pfizer e Moderna também são um pouco menos eficazes contra vírus com a mutação E484K, como a variante identificada na África do Sul e a primeira detetada no Brasil. "Mutações no vírus estão a reduzir a capacidade dos anticorpos de neutralizá-lo”, alerta o biólogo argentino Rafael Casellas, coautor da pesquisa.

A boa notícia é que as vacinas, embora não previnam todas as infecções, têm eficácia praticamente absoluta na prevenção dos casos mais graves. "A previsão é que as vacinas atuais vão manter as pessoas fora do hospital, mas ao mesmo tempo o vírus terá a capacidade de se reproduzir nos infectados para que continue a espalhar-se na sociedade”, explica Casellas, chefe de laboratório do Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos. O investigador é da opinião que as vacinas terão de ser atualizadas periodicamente, como acontece com as vacinas contra a gripe.


Fonte: NM