O cancro da mama ultrapassou o do pulmão como o mais diagnosticado no mundo, segundo dados da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro, e as estimativas indicam que os novos casos de cancro serão 50% superiores em 2040.
Na última sexta-feira assinalou-se o Dia Mundial do Cancro e os dados
foram relevados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que alerta para
o facto de, nas últimas décadas, o número total de pessoas
diagnosticadas com cancro quase ter duplicado, passando de cerca de 10
milhões em 2000 para 19,3 milhões em 2020. Hoje, uma em cada cinco
pessoas no mundo desenvolverá cancro durante a vida, refere a OMS, que
reconhece que a pandemia de Covid-19 exacerbou os problemas no
diagnóstico em estado avançado e a falta de acesso ao tratamento.
"Isto
ocorre em todos os lugares, mas principalmente em países mais pobres.
Além de terem de lidar com a interrupção nos serviços, as pessoas que
vivem com cancro também correm maior risco de contrair formas graves de
Covid-19 e de morrer”, sublinha a organização. Uma pesquisa da OMS
realizada em 2020 indicou que o tratamento do cancro foi interrompido em
mais de 40% nos países analisados durante a pandemia. Os resultados
desta pesquisa foram apoiados por estudos publicados, que indicam que os
atrasos no diagnóstico são comuns e que as interrupções e abandono da
terapia aumentaram significativamente, refere a OMS, frisando, por outro
lado, que as inscrições em ensaios clínicos e a produção de
investigação diminuíram.
Segundo a OMS, o número de mortes por
cancro também aumentou, de 6,2 milhões em 2000 para 10 milhões em 2020.
Mais de uma em cada seis mortes no mundo deve-se a cancro. A OMS
realizou, sexta-feira, a primeira de uma série de consultas para
promover uma nova iniciativa global contra o cancro da mama, que será
lançada no final deste ano. "Este esforço colaborativo entre a OMS, a
Agência Internacional de Pesquisa sobre o Cancro (IARC, sigla em
inglês), a Agência Internacional de Energia Atómica e outros parceiros,
irá reduzir as mortes por cancro da mama, promovendo a saúde da mama,
melhorando a detecção atempada e garantindo o acesso a cuidados de
qualidade”, refere a OMS.
Embora as mudanças no estilo de vida,
como as dietas não saudáveis, actividade física insuficiente, o tabaco e
o álcool tenham contribuído para o aumento da carga do cancro, "uma
proporção significativa também pode ser atribuída ao aumento da
longevidade, pois o risco de desenvolver o cancro aumenta com idade”.
"Isso reforça a necessidade de investir na prevenção e no controlo do
cancro, com foco em cancros como o da mama, o cervical e o infantil”,
refere a agência especializada em saúde pública da Organização das
Nações Unidas. Na comunicação divulgada no seu ‘site’, a OMS considera
que o Dia Mundial do Cancro, com o seu slogan "Eu posso e vou”, é também
uma oportunidade de mostrar o compromisso da organização com outros
grandes programas globais de cancro, designadamente o cancro cervical e o
cancro infantil.
A OMS recorda que a adopção da estratégia
global para acelerar a eliminação do cancro do colo do útero como um
problema de saúde pública e os seus objectivos e metas definidos pela
Assembleia Mundial da Saúde em 2020 proporcionaram "um impulso
adicional” aos esforços para combater este tipo de cancro. A organização
recorda as três metas estabelecidas para 2030 - 90% das meninas
totalmente vacinadas contra o HPV, 70% das mulheres rastreadas e 90% das
mulheres identificadas com cancro cervical a receber tratamento - e
lembra que o cancro também é uma das principais causas de morte nas
crianças e adolescentes, com cerca de 400.000 crianças diagnosticadas a
cada ano.
Cancro infantil
No
Dia Internacional do Cancro Infantil, a 15 de Fevereiro, a OMS lançará
um guia "como fazer”, para responsáveis pelas políticas de saúde e
gestores de iniciativas sobre como impulsionar os programas de cancro
infantil, uma nova ferramenta de avaliação para facilitar a recolha do
uniforme de dados e permitir uma interpretação rápida e em tempo real e
um centro online de partilha de informações. "Os cancros da mama,
cervical e infantil têm uma grande hipótese de cura, se diagnosticados
precocemente e tratados adequadamente”, sublinha a OMS.
TRATAMENTO DA DOENÇA
O impacto catastrófico da pandemiaA
OMS Europa alertou para o impacto da pandemia de Covid-19 no tratamento
do cancro, que considerou catastrófico, apontando interrupções nos
serviços em um terço dos países da região. "O impacto da pandemia sobre o
cancro na região é catastrófico”, disse o director da Organização
Mundial da Saúde (OMS) na Europa, Hans Kluge, no Dia Mundial do Cancro.
Entre os 53 países da região para a OMS (incluindo vários países da Ásia
Central), um em cada três países interrompeu parcial ou totalmente os
seus serviços oncológicos, por causa da mobilização contra a pandemia e
das restrições de viagens.
"Alguns países tiveram escassez de
medicamentos anticancerígeno e muitos registaram uma queda significativa
em novos diagnósticos de cancro, mesmo em países mais ricos”, observou
Kluge, em comunicado, apontando o agravamento das desigualdades devido à
crise económica. Na Holanda e na Bélgica, durante o primeiro
confinamento na Primavera de 2020, o número de cancros diagnosticados
caiu 30 a 40% e no Quirguistão caiu 90% em Abril de 2020, disse o
responsável. A OMS prevê que os atrasos no diagnóstico e tratamento no
Reino Unido levem a um aumento de 15% nas mortes por cancro do colo
rectal e 9% por cancro da mama nos próximos cinco anos. Na região
europeia, o cancro, a diabetes e as doenças respiratórias crónicas são
responsáveis por mais de 80% das mortes a cada ano.
Fonte: JA