Cultura
08 Janeiro de 2021 | 11h00

UNESCO elogia Angola pela protecção de Mbanza Kongo

Angola recebeu elogios dos peritos da UNESCO pelo trabalho desenvolvido, no âmbito da preservação dos monumentos e sítios que configuram a zona chave de Mbanza Kongo, Património Mundial da Humanidade, revelou, ontem, o presidente do Comité de Gestão Participativa do centro histórico.

Pedro Makita fez um balanço das actividades de 2020 e disse que apesar das dificuldades financeiras e da pandemia, Angola cumpriu com seis, das sete recomendações saídas da 41ª sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, realizada em 2007.
Entre as recomendações cumpridas, destaca-se a remoção das antenas da Rádio Nacional de Angola, Angola Telecom e Unitel da zona histórica e a realização de acções de divulgação e preservação dos monumentos e sítios. A última recomendação foi a desactivação da actual pista do aeroporto de Mbanza Kongo, localizado no centro histórico, cujos voos, segundo especialistas, provocam impacto negativo sobre o património edificado.

"Realizamos uma reunião com os peritos da UNESCO, onde Angola foi elogiada pela forma como deu resposta às recomendações daquele órgão das Nações Unidas. Os especialistas disseram que estamos no bom caminho. Gostaram do trabalho realizado até ao momento”, disse.O coordenador do Centro Histórico de Mbanza Kongo, Biluka Nsakala Nsenga, disse que são realizados, regularmente, trabalhos de limpeza dos monumentos e sítios históricos existentes na cidade, como o Kulumbimbi (a primeira igreja construída na África sub-equatorial), Yala Nkuwu (a árvore milenar) e o Museu dos Reis do Kongo.

Os vestígios recolhidos, ao longo dos dez anos de escavações arqueológicas na zona histórica, revelou, encontram-se em lugar seguro de Mbanza Kongo, aguardando-se apenas pela efectivação do projecto de construção do novo Museu do Reino do Kongo, onde devem ficar em exposição permanente."O novo museu do Reino do Kongo vai reflectir a cultura da região, ou seja, de todos os países que faziam parte deste Reino, nomeadamente Angola, República de Democrática do Congo, Congo Brazzaville e Gabão.Biluka Nsakala Nsenga disse, ainda, que a região tem outros pontos turísticos, como as fontes naturais de água Santa, Madungu, Ntentembwa e Kilumbu, a necessitarem de mais trabalhos de higiene para atrair os visitantes.
Recomendações 

Angola cumpriu seis das sete recomendações submetidas pelo Comité do Património Mundial da UNESCO, para a valorização do centro histórico de Mbanza Kongo. A constatação vem no projecto de relatório sobre a implementação das recomendações da UNESCO, que foi apreciado, durante a primeira reunião extraordinária da Comissão Nacional Multissectorial para a Salvaguarda do Património Cultural Mundial, orientada pelo Vice-Presidente da República, Bornito de Sousa.

Depois de aprovado pelo Titular do Poder Executivo, o relatório vai ser remetido ao Centro do Património Mundial da UNESCO. Segundo o comunicado da reunião, a UNESCO tinha recomendado a remoção das antenas do centro histórico, desactivação da pista do actual aeroporto, confirmação do funcionamento do Sistema de Gestão Transversal, aprovação do Regulamento do Plano Urbanístico, elaboração da Estratégia de Gestão do Turismo e elaboração dos indicadores precisos na base do Valor Universal Excepcional.

Todas as recomendações foram cumpridas, com excepção da desactivação do aeroporto de Mbanza Kongo, localizado no centro histórico, que tem provocado impacto sobre o património edificado, sempre que há voos.Segundo a secretária de Estado da Cultura, Maria da Piedade de Jesus, não é possível retirar o aeroporto de Mbanza Kongo, enquanto o novo, a ser construído a 32 quilómetros do centro da cidade, na zona do Kiende 2, não estiver concluído.

A dirigente esclareceu que já foi feita a desminagem do terreno que vai acolher o futuro aeroporto. Há, inclusive, a certificação, que vai ser anexada ao relatório, para mostrar que o trabalho está em andamento.A secretária de Estado fez, igualmente, referência ao decreto que autoriza a abertura do concurso público para a construção do novo aeroporto, que vai servir de certificação que o Estado angolano está preocupado  e interessado em retirar as instalações tão logo sejam concluídas as obras.
Estatuto próprio 

O Museu dos Reis do Kongo, um dos principais atractivos de Mbanza Kongo, ainda não tem um estatuto próprio definido, factor que continua a inviabilizar a atribuição, pelo governo central, de um orçamento para as despesas correntes, resultantes do funcionamento, revelou, ontem, a directora do Gabinete Provincial da Cultura, Turismo, Juventude e Desporto do Zaire.Nzuzi Makiese Kadi, que falava por ocasião das jornadas alusiva ao Dia da Cultura Nacional, avançou que, neste momento, o museu tem beneficiado de apoio financeiro do Comité de Gestão do Centro Histórico, que tem permitido a realização de trabalhos de manutenção e higiene.

"Apelo ao Ministério da Cultura, no sentido de reconhecer o Museu dos Reis do Kongo, fundado em 1982, uma vez que o estatuto já se encontra no gabinete jurídico da instituição, desde 2016. Com o estatuto, o espaço pode ter um orçamento próprio para resolver situações pontuais”, disse.O Comité de Gestão Participativa do centro histórico de Mbanza Kongo é integrado, entre outras entidades, pelo governador da província (coordenador) e responsáveis dos Ministérios da Cultura,          Turismo  e Ambiente, Educação, Finanças, Hotelaria, Construção, Urbanismo e Habitação, Administração do Território, Interior, e Ensino Superior.
Poucas visitas

Para o director do Museu dos Reis do Kongo, Luntadila Lunguana, o ano passado foi muito fraco, em termos de visitas, se comparado aos anteriores. A instituição recebeu menos de quatro mil visitantes, devido à pandemia da Covid-19.

"O museu vive essencialmente das visitas de turistas estrangeiros e alguns nacionais, por isso, a estatística do ano passado apresenta um número muito insignificante, se comparado com os 13 mil visitantes de 2019. Porém, no período em que o museu ficou fechado, aproveitamos para fazer manutenção das peças e higienização das salas, para melhor preservar o acervo”, disse.Luntadila Lunguana adiantou, ainda, que nos próximos tempos pretendem realizar acções de carácter educativa, para incentivar os habitantes locais a conhecerem a história do Reino do Kongo, através do acervo do museu. 

Para tal, informou, está a ser criado planos estratégicos, como a criação de uma "escola museu”, capaz de mostrar réplicas ou fotografias das peças nas escolas, igrejas e aldeias, de forma a suscitar o interesse da população. Outra acção prevista é a criação de parques de diversão e recreação, assim como a instalação de uma rede Wi-Fi em sinal aberto.
O acervo

As peças expostas no Museu dos Reis do Kongo, subdividido em duas partes, retratam o período antes e depois da chegada dos portugueses. A área sobre a vida dos reis, considera-se tipicamente tradicional, por ilustrar artefactos sobre usos e costumes dos soberanos, antes do contacto com a cultura ocidental. A segunda parte do acervo histórico exposto no museu apresenta a vida do reino no período de cooperação com os portugueses.
Para Luntadila Lunguana, é urgente a criação de um novo museu, capaz de abarcar a maior parte da história sociopolítica e cultural do Reino do Kongo, sem limitações, tanto no espaço e no tempo, desde o surgimento até ao desaparecimento.O director do museu dos Reis do Kongo pediu, igualmente, à juventude da região a conhecer, profundamente, a cultura local, em particular, e do país, no geral, de forma a preservar e divulgar traços da identidade nacional para as gerações vindouras.
Celebração
O Dia Nacional da Cultura vai ser celebrado, no Zaire, com um programa de visitas aos locais e sítios históricos, uma feira da cultura, encontro com os jovens e homenagens a alguns fazedores de arte da região.  
Ministério distingue várias personalidades 

A cerimónia de outorga de diplomas de honra e mérito aos antigos funcionários do Ministério da Cultura, destacadas personalidades e promotores do universo cultural e um concerto com a Banda Duia, hoje, a partir das 16h00, no Arquivo Nacional de Angola (ANA), marcam o acto central do Dia Nacional da Cultura.Subordinado ao lema "Somos Angola, somos Cultura”, as jornadas do Dia Nacional da Cultura, iniciadas na segunda-feira em todo o país decorrem até ao dia 31 e incluem exposições, concertos e debates.

O programa da efeméride reserva, igualmente, para hoje, às 9h00, no Memorial António Agostinho Neto, uma homenagem ao "Poeta maior”, a Feira da Cultura e Turismo de Cacuaco, no Sítio Histórico de Kifangondo, a partir das 10h00, uma homenagem ao mestre Camosso, às 14h00, na localidade de Cassanzo, e o concurso de declamação de poesia "Disnatia Poética - O Soba”, às 15h00, no Bar Bar.

A Mediateca de Luanda acolhe, na próxima quarta-feira, às 15h00, uma palestra sobre "A influência da protecção dos direitos de autor no desenvolvimento das indústrias criativas”. No próximo dia 14, às 15h00, é realizado o projecto "Conversas sobre o teatro”, no Anfiteatro da Escola Njinga Mbande, actividade que passa a ser semanal. Um Encontro Geracional da Dança realiza-se no próximo dia 16, às 10h00, na Liga Africana, em Luanda, estando previsto para o dia 20, às 15h00, no Museu Nacional de Antropologia, o lançamento do projecto "Tuxika ô dikanza”.
"Injustiçada  justiça”

"Injustiçada justiça” é o título do espectáculo que o Horizonte Njinga Mbande exibe hoje, às 19h30, sábado e domingo, às 17h30 e às 19h45, no seu anfiteatro, em Luanda, no âmbito do Dia Nacional da Cultura.

Fonte: JA