Economia
05 Janeiro de 2021 | 22h01

Angola preside a OPEP com a incerteza entre o preço do crude e receios

Angola começou a presidir esta semana, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), numa altura em que o preço do petróleo está entre a recuperação e receios de uma nova vaga pandémica.

Os especialistas estão pouco optimistas com a  recuperação em flecha do preço do barril de petróleo no mercado mundial em 2021. Desde o início do ano de 2020, o preço do crude apresentou elevada volatilidade e uma tendência descendente,  devido ao choque da procura gerada pela pandemia. 

Este será um dos desafios da OPEP cuja  presidência de Angola em 2021 preconiza o diálogo com países produtores não signatários do acordo com vista a sua adesão à OPEP+.  Em resposta à redução acentuada dos preços do petróleo, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), em alinhamento com os seus principais parceiros, comprome-teu-se em cortar a produção em aproximadamente 9,7 milhões de barris/dia, desde Abril de 2020.

 Este foi o maior acordo de corte de produção na história do sector petrolífero, após a tentativa falhada em Março passado. Os países que aderiram ao acordo ajustaram a sua produção desde Maio de 2020.  Entretanto, os esforços podem ser afectados pelo aumento da produção e quota de mercado pelos países não aderentes. 

A U.S. Energy Information Administration projecta, para o exercício económico de 2021, o preço médio de USD 47 por barril, fundamentada pela melhoria da perspectiva de economia mundial que, por sua vez, promoverá o aumento gradual da procura global por esta commodity e seus derivados, em cerca de 6,3 milhões de barris por dia. 

Adivinha-se também a redução do inventário de combustíveis líquidos globais em cerca de 0,3 milhões de barris por dia.O âmbito do World Economic Outlook (WEO) de Outubro de 2020, é projectado a um preço médio de USD 46,7 por barril, para 2021. 

No Relatório de Fundamentação do OGE 2021 salienta que, não obstante estas projecções optimistas, são reconhecidos elevados factores de risco com potencial de redução do preço médio do ano dos quais destacam-se os que levariam a um abrandamento da actividade económica mundial. 

Entre os factores constam o atraso na descoberta de vacinas seguras, quebra do acordo vigente no âmbito da OPEP, incremento de medidas proteccionistas no comércio entre os principais blocos económicos mundiais, assim como a efectivação de um Brexit desordenado.

Referência no OGE 2021 

O Governo angolano estima  que os níveis de incertezas características do sector petrolífero deverão permanecer, pelo que se perspectivou um preço de referência do petróleo de USD 39 por barril. Este preço é considerado conservador, pelo que concorre para garantir a estabilidade na programação macro-fiscal do país.

A consideração dos factores de risco referidos acima, combinada com o reconhecimento de elevado peso das receitas petrolíferas nas receitas fiscais, recomendam que se mantenha uma abordagem conservadora na definição do preço do petróleo a usar na elaboração do OGE 2021. 

Adoptando-se uma abordagem conservadora e na eventualidade do preço médio que efectivamente se verificar no mercado se situar acima deste preço de referência, a diferença ficará à disposição das finanças públicas, devendo ser usado para o reforço da posição do Tesouro Nacional.

A análise dos dados históricos mostra que o preço da rama média angolana tem sofrido um desconto em relação ao Brent em resultado de alterações na estrutura de participação dos diferentes campos petrolíferos na produção global.  Espera-se que o PIB petrolífero para 2021 volte a contrair, como resultado da incapacidade de ultrapassar rapidamente os desequilíbrios originados com a conjuntura de 2020, do declínio natural de alguns campos e da falta de investimento em prospecção nos últimos anos.

 Para o efeito, definiu-se um cenário conservador com um nível de produção de 1220,4 mil barris.  A produção de gás deverá contrair para 113,3 mil barris de pés cúbicos (BOEPD). Quer o sector de petróleo, quer do gás, combinados, deverão contrair em 6,2 por cento. Já o PIB Não - Petrolífero se antecipa a uma expansão da generalidade de sectores de actividades que compõem o PIB não Petrolífero. 
Equilíbrio dos preços 
O especialista em petróleo e gás, Patrício Wanderley Quingongo antevê um cenário mais difícil na recuperação dos preços do Brent, referência de exportação de Angola, em 2021.  Com a reabertura das refinarias e das actividades económicas globais, o CEO da PetroAngola acredita que o crude só venha a ter uma subida paulatina em 2022. 

Nesta fase, Angola está com um declínio acentuado na produção petrolífera à volta de 15 por cento ao ano e tem perdas diárias de mais de sete milhões de dólares. Dois em dois anos, o país perde 250 mil barris de petróleo/dia, o que, para Patrício Quingongo, são desperdícios avultados.

"O ano de 2020 foi desenhado para o relançamento da actividade de exploração, a fim de contrapor o combate ao declínio de produção, mas, infelizmente, a Covid-19 atrapalhou tudo”, disse o especialista, para quem estava prevista a entrada de novas zonas de exploração nos blocos 17, 15 e 32 do offshore angolano. 

"O declínio da produção pode chegar a 18 por cento caso persista a Covid-19”, vaticinou o especialista, tendo olhado de forma preocupante para a baixa da rentabilidade das companhias, o que pode causar a redução de mais postos de trabalho.  
Considera fundamental que não se afecte o fecho das plataformas e a demanda ao que deve haver uma resolução para a Covid-19, sem a qual o preço estará nos actuais níveis e não se espera que ultrapasse a fasquia dos 50 dólares, em caso de não se assistir a um fracasso no combate à pandemia e um desacordo entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP). 

"A eficácia das vacinas vai ajudar na estabilidade dos preços”, disse Patrício Quingongo, para quem, até ao segundo semestre deste ano não se espera qualquer alteração dos preços da commodity, mantendo-se no escalão de comercialização entre 45 e 55 dólares/barril.

"Tudo depende da Co-vid-19 e como os países vão responder à pandemia. Em 2022, já há esperanças de uma estabilização dos preços”, assevera. Quanto ao preço de USD 39 por barril estimado no OGE para 2021, considera uma estimativa conservadora, como estimou o Governo. Angola conseguiu manter os níveis de exploração, apesar da Covid-19 e deu respostas positivas à exploração do petróleo.
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Fonte: JA