Economia
05 Janeiro de 2021 | 11h18

Reformas económicas geram resultados no médio prazo

As reformas na Sociedade Nacional de Combustíveis de Angola (Sonangol) e a privatização de vários activos não essenciais, no curto prazo, vão impulsionar as receitas e o crescimento económico, "mas apenas a médio prazo e não a curto prazo", concluiu a analista da consultora IHS Markit que segue Angola

Alisa Strobel disse, ontem, à Lusa, que o país deverá registar uma contracção de 6,5 por cento do PIB em 2020, tendo alertado que o Kwanza continuará a depreciar-se.
"A IHS Markit desceu a previsão sobre a evolução da economia depois da queda de 40 por cento da actividade no sector da construção durante o segundo trimestre do ano passado, que contribuiu para que o PIB deva ter caído 6,5 por cento em 2020", disse Alisa Strobel em declarações à Lusa.

A confirmar-se a previsão, Angola terá registado o quinto ano consecutivo de crescimento económico negativo, com o Governo a estimar um crescimento económico nulo ou perto de zero em 2021, de acordo com a revisão do Orçamento Geral do Estado aprovada em Dezembro na Assembleia Nacional.

Questionada sobre as previsões para Angola em 2021, a economista disse que "a moeda nacional deverá continuar a depreciar-se no primeiro semestre deste ano, a inflação deverá ficar mais alta e as taxas de juros mais elevadas, o que vai continuar a limitar o crescimento do rendimento disponível dos consumidores".
Isto, acrescentou, "vai levar a uma retoma do consumo privado mais fraca, o que vai abrandar a retoma económica em 2021".

Por outro lado, "uma recuperação modesta nos preços do petróleo será fundamental para estimular o crescimento, principalmente durante a segunda metade de 2021, com uma recuperação da produção e a exportação de crude, mas o desemprego continua notavelmente elevado, e a pobreza será prevalente na economia angolana a médio prazo".
Sobre o programa de privatizações das empresas públicas angolanas, a economista Alisa Strobel diz que isso "será positivo para a recuperação dos sectores dos serviços e da produção artesanal em 2022", mas, alertou que o crescimento do serviço dos sectores já este ano revelará apenas uma recuperação parcial da queda do ano passado.

Contexto regional e internacional

Para os países da África Subsariana, os dados mais recentes indicam uma previsão de contracção de 3,20 por cento.
Porém, a expectativa é de que Moçambique, registe uma expansão do PIB de 1,20 por cento, com a concretização do investimento no sector de petróleo e gás.

No segundo trimestre de 2020, o cenário internacional foi marcado pela escalada das tensões comerciais e políticas entre Estados Unidos da América e a China e pelos avanços da Covid-19, cujo ritmo de contágio intensificou-se, estando os países a contabilizar avultados prejuízos económicos, além de significativas perdas humanas.

As principais economias avançadas e emergentes irão experimentar um crescimento negativo, à excepção da China, levando o Fundo Monetário internacional (FMI) a considerar que o mundo está a atravessar uma crise sem igual.
Face aos impressionantes recuos da actividade comercial e do consumo, o FMI apresentou no seu mais recente relatório uma visão mais pessimista em relação ao crescimento económico mundial e reforçou a existência de diversos factores catalisadores de risco que podem pôr em causa as previsões, nomeadamente: a decisão de reposição de medidas de confinamento por parte de países onde surgir aumentos de casos de infecções, depois do processo de desconfinamento; a propensão a consumir; a diminuição da capacidade produtiva das empresas no período pós-pandemia, por causa da redução da força de trabalho; a possibilidade das crises de dívida de alguns países poderem desacelerar ainda mais a sua actividade económica. À luz disso, o Fundo reiterou a necessidade de uma cooperação multilateral entre os países em vários domínios, sobretudo no sector da Saúde, bem como o apoio financeiro externo aos países mais vulneráveis, por meio do alívio da dívida externa e/ou da disponibilização de recursos financeiros. Além disso, os países devem implementar modalidades eficazes de auxílio aos mais desfavorecidos e melhorar a sua capacidade de resposta a este tipo de crise, através da melhoria da cadeia de suprimentos e do financiamento para pesquisa e apoio aos sistemas de saúde pública, sem descorar da criação de mecanismos para a mitigação das mudanças climáticas e redução das emissões de gases de efeito estufa.

Diante deste panorama, o relatório World Economic Outlook de Junho de 2020 antecipa uma contracção de 4,90 por cento para 2020, menos 1,9 p.p. em relação à previsão efectuada em Abril de 2020, no entanto, para o ano de 2021, prevê uma taxa de crescimento de 5,40 por cento.

Fonte: JA